É impossível falar da entrevista do ex-presidente Lula ao Jornal Nacional, da TV Globo, na noite desta quinta-feira (25), sem compará-la com a de segunda-feira com o presidente Jair Bolsonaro e a de terça-feira com Ciro Gomes. Lula foi para a bancada sabendo como tinham se saído os dois primeiros adversários e preparado para enfrentar o principal fantasma que assombra sua candidatura: a corrupção.
A primeira pergunta de William Bonner não poderia ser sobre outro tema. A forma como ele a fez, no entanto, colocando no enunciado a resposta que Lula daria sobre a suspeição do ex-juiz Sergio Moro e a anulação da sentença soou como um presente antecipado de Natal. Embora tenha acrescentado que “houve corrupção na Petrobras” e perguntado o que ele faria para evitar que isso se repita, Lula deitou e rolou.
— É importante começar esse debate com essa pergunta, porque eu fui massacrado por cinco anos e é a primeira vez que tenho a oportunidade de me dirigir ao país para esclarecer — começou o ex-presidente.
E desatou a falar sobre os órgãos criados nos governos petistas para aumentar a transparência e investigar denúncias de corrupção.
— Corrupção só aparece quando a gente investiga — filosofou, para depois ressaltar que nunca interferiu na Polícia Federal e que se quisesse esconder alguma coisa teria nomeado para a Procuradoria-Geral da República (PGR) um engavetador.
A corrupção ocupou quase um terço dos 40 minutos e Lula repetiu os argumentos desde que deixou a cadeia:
— Você não pode dizer que não houve corrupção se as pessoas confessaram, mas o roubo foi oficializado quando a Lava-Jato permitiu que quem fez delação premiada ficasse com a metade do que desviou.
Criticados pelas interrupções a Bolsonaro, os entrevistadores repetiram com Lula o que haviam feito com Ciro: deixaram concluir as frases, fizeram as perguntas que tinham preparado, mas foram serenos do início ao fim.
Lula usou a entrevista como palanque para elogiar o vice Geraldo Alckmin, seu fiador junto a setores mais conservadores da sociedade. Quando Bonner disse que os militantes do PT hostilizavam Alckmin, reagiu com bom humor:
— Bonner, nós não estamos vivendo no mesmo mundo. Eu tenho até ciúme do Alckmin, porque ele é aplaudido de pé pela nossa militância.
Lula se atrapalhou quando questionado sobre as razões da aversão do agronegócio ao seu nome. Generalizou dizendo que os fazendeiros não gostam dele porque defende a preservação da Amazônia, do Pantanal e da Mata Atlântica. Advertido por Renata Vasconcellos de que aos produtores não interessa a devastação da floresta, remendou dizendo que se referia aos “fascistas” e que o agronegócio sério não quer desmatar.
Aliás
Na entrevista a, Lula evitou citar o nome de Jair Bolsonaro quando tratou de corrupção, referindo-se apenas de forma indireta, mas chamou o adversário de “bobo da corte” quando falou do orçamento secreto. Disse que Bolsonaro não manda nada e que quem executa o orçamento é o presidente da Câmara.