Com uma capacidade singular de comunicação, o candidato do PDT a presidente, Ciro Gomes, usou cada segundo dos seus 40 minutos no Jornal Nacional, da TV Globo, para tentar convencer os eleitores de que existe vida entre Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL). Para tentar se livrar do estigma de “pavio curto”, cuidou para não ser indelicado com a jornalista Renata Vasconcellos nem arrogante com William Bonner. Descontraído, deu-se ao luxo de fazer brincadeiras, como quando disse que a partir de sábado a Globo terá uma concorrente, a cirotv.com.br, onde explicará as propostas que não conseguiu detalhar.
Com os dois apresentadores mais serenos do que no dia anterior, conseguiu falar de suas principais propostas para o país. Advertido por Renata de que seu discurso de reconciliar o país não combina com a forma rude como trata os adversários, fez um exercício forçado de humildade quando disse que poderia reavaliar a forma. Na entrevista, não reavaliou. Ao contrário, seguiu dizendo que espera contar com os eleitores que só vão votar em Bolsonaro porque não aceitam a corrupção do PT ou que escolherão Lula para fugir do governo “genocida” de Bolsonaro.
Questionado sobre como colocaria em prática as reformas que prega sem uma base no Congresso (e depois de chamar os parlamentares do centrão de grupo de picaretas), apelou para uma aliança com governadores e prefeitos, a quem prometeu devolver 15% das receitas que hoje ficam com a União. Em caso de impasse, tudo seria resolvido por meio de plebiscito. Advertido de que essa ruptura com o sistema representativo poderia provocar uma crise institucional, disse que o presidencialismo de coalizão é que provocou a ruína do país.
Sem cargo público há vários anos, os apresentadores não tiveram muito o que cobrar. Ciro despejou palavras e números e acenou com uma reforma do sistema de proteção social pelo qual os brasileiros que hoje dependem de auxílios do governo passariam a ter uma renda mínima de R$ 1 mil, permanente e garantida na Constituição “para evitar medidas eleitoreiras”. Como se pagaria essa renda mínima? Com a taxação das grandes fortunas.
Pelos cálculos do candidato do PDT, só os muito ricos, com patrimônio acima de R$ 20 milhões seriam taxados:
— Pagando apenas 50 centavos a cada R$ 100, cada superrico bancaria 821 famílias que vivem abaixo da linha da pobreza.
Para a meta de criar 5 milhões de empregos em dois anos, anunciou um plano de obras gigantesco, que envolveria a reurbanização de favelas, construção de moradias, saneamento básico e investimento pesado em infraestrutura.