Esperada com ansiedade por aliados e adversários, a entrevista do presidente Jair Bolsonaro ao Jornal Nacional foi marcada por perguntas duras e respostas dúbias de um candidato visivelmente tenso. Foram 40 minutos em que Bolsonaro tentou reforçar posição com os eleitores que o apoiam e forneceu material para alimentar as redes sociais, que são o motor de sua campanha eleitoral.
O jornalista William Bonner começou perguntando ao presidente sobre qual era sua intenção ao xingar ministros do Supremo Tribunal Federal, colocar em dúvida as urnas eletrônicas e insinuar que não aceitaria o resultado das eleições ou que poderia não haver clima para a sua realização.
— Você não está falando a verdade quando diz que eu xinguei ministros do Supremo, Bonner. Isso é fake news — reagiu Bolsonaro à moda Donald Trump.
Foi preciso que Bonner recordasse que ele chamou o ministro Alexandre de Moraes de “canalha”. O presidente disse que “foi só um”, embora também tenha atacado Luis Roberto Barroso e Edson Fachin, mas logo emendou:
— Hoje está pacificado. Você viu que nós tivemos um contato amistoso na posse.
Bonner tentou arrancar um compromisso de que o resultado das urnas será respeitado, mas o máximo que conseguiu foi uma declaração de que aceitará, “desde que sejam eleições limpas”.
Ficou no ar a dúvida sobre o conceito de “eleições limpas”, já que o sistema não mudará até outubro.
A entrevista transitou por temas espinhosos, como o comportamento durante a pandemia que já matou quase 700 mil brasileiros. Para reforçar seu discurso contra as restrições de circulação impostas pelos governadores, Bolsonaro voltou a repetir a tese (sem pé nem cabeça) de que as pessoas se contaminaram “mais em casa do que na rua”. Insistiu que a crise econômica foi culpa do “fique em casa” e que o grande problema da pandemia foi a imprensa combater o tratamento precoce com cloroquina, “desrespeitando a autonomia dos médicos”.
Questionado por Renata Vasconcellos sobre o troca-troca no Ministério da Educação e as escolhas erradas dos ministros, Bolsonaro deu a resposta mais simplória que poderia dar:
— Depois que a pessoa chega, a gente vê que não era tudo aquilo. As pessoas se revelam quando chegam (ao posto).
Foi na pergunta sobre o desmatamento da Amazônia que o presidente se mostrou mais tenso. Confrontado com dados que mostram a devastação da floresta, comparou os incêndios provocados com os naturais na Europa e na Califórnia.
ALIÁS
Ao citar no Jornal Nacional o “padrão” de ministros que considera técnicos de altíssimo nível, Jair Bolsonaro citou Tarcísio Gomes de Freitas, Tereza Cristina, Ricardo Salles, Marcos Pontes, Gilson Machado e Onyx Lorenzoni, a quem chamou de curinga.