O ex-ministro da Educação Milton Ribeiro e os pastores Arilton Moura e Gilmar Santos são alvo de uma operação da Polícia Federal nesta quarta-feira (22). A ofensiva foi batizada de Acesso Pago e tem como foco investigar a criação de um gabinete paralelo para priorizar liberação de recursos a prefeituras mais próximas dos líderes religiosos envolvidos e até a cobrança de propina.
As suspeitas de corrupção no Ministério da Educação (MEC) vieram à tona após reportagens revelarem que dois pastores estariam controlando a distribuição de verbas na pasta. Desde o começo de 2021, os religiosos Gilmar Santos e Arilton Moura teriam intermediado reuniões de prefeitos no ministério que resultaram em pagamentos e empenhos (reserva de valores) de R$ 9,7 milhões dias ou semanas após os encontros.
De acordo com uma matéria do jornal O Estado de S. Paulo, publicada em março, a dupla garantiria repasses federais com agilidade fora dos padrões. Com trânsito livre na pasta, os pastores atuariam como lobistas. Eles inclusive viajavam em voos da FAB e abriam as portas do gabinete do ministro para prefeitos e empresas. O Estadão identificou a presença dos dois em 22 agendas oficiais no MEC, 19 delas com o ministro.
Dez prefeitos afirmaram publicamente que receberam pedidos de propina em troca de recursos financeiros do ministério. Três deles disseram que houve solicitação de propina para liberação de verbas para escolas. Moura inclusive teria pedido um quilo de ouro como contrapartida para liberação de verbas.
O prefeito da cidade de Bonfinópolis, em Goiás, Kelton Pinheiro, contou que, após negar um pedido de propina do pastor Arilton Moura, não obteve sucesso em qualquer das demandas cadastradas pela prefeitura dele para recursos do MEC.
Em fala registrada em áudio, Milton Ribeiro disse, durante reunião com prefeitos, que atendia a reivindicações dos pastores por repasse de verbas a pedido de Bolsonaro. Quando as suspeitas vieram à tona, o ministro se defendeu das acusações, alegando que solicitou à Controladoria-Geral da União (CGU) uma investigação sobre os supostos favorecimentos, após receber denúncias relativas aos pedidos de propina.
No dia 28 de março, Ribeiro deixou o comando da pasta. O pedido de demissão partiu do próprio titular e foi aceito pelo presidente Jair Bolsonaro.