Dentro de pouco mais de duas semanas, se comemoram – ou deveriam se comemorar – os 200 anos de independência do Brasil. Era para estarmos em festa há meses. Conferências sobre o significado da data e o futuro do país, eventos populares, calendário de festejos, nada disso está no radar do brasileiro médio. Em vez de celebrarmos a maior data de nossa geração, gastamos energia na discussão pueril sobre o local do desfile militar no Rio depois que o presidente da República achou por bem transformar o que deveria ser um momento de congraçamento nacional em ato de sua campanha eleitoral.
O sumiço dos festejos não faz jus nem ao regime militar, que em 1972 extraiu dos 150 anos da Independência uma batelada de eventos que começaram em 21 de abril daquele ano. A festança incluiu um Hino do Sesquicentenário, cantado por Angela Maria, o traslado dos despojos de Dom Pedro I para a cripta do Monumento à Independência, em São Paulo, e a Taça Independência, uma mini Copa do Mundo que reuniu 20 países e deu o título de campeão à extraordinária Seleção Brasileira do início dos anos 70.
Para não dizer que os 200 anos passarão quase em branco, há, sim, um marco único: a reinauguração do Museu do Ipiranga, em 7 de Setembro, iniciativa do governo de São Paulo por meio da Fundação de Apoio à USP, com decisivo apoio financeiro da iniciativa privada. Antes da reforma, o museu recebia 300 mil visitantes por ano, o que já era invejável. Agora, se consolidará como uma atração imperdível de São Paulo e um dos museus mais relevantes da América Latina.
Preservar e refletir sobre a história deveria fazer parte do projeto de qualquer nação. Uma inspiração do que se poderia fazer vem do próprio Exército brasileiro, que mantém viva e bem cuidada uma coleção de museus e sítios históricos, que vão do Forte de Copacabana e o Museu do Exército, em Porto Alegre, ao Monumento de Pistoia, na Itália, onde foram inicialmente sepultados os caídos na campanha da FEB.
É, por sinal, exemplar a coleção de reverências, marcos e monumentos aos pracinhas mantida por organizações civis e pelas Forças Armadas no dificílimo terreno de combate na Itália. Nesta próxima segunda-feira, completam-se 80 anos da declaração de guerra do Brasil à Alemanha nazista. A tradicional revista War History não esqueceu a data. Na edição deste mês, refere-se aos quase 26 mil homens da FEB como uma força que “ganhou reputação por sua tenacidade e que lutou com grande bravura”. Merecem todas as homenagens, como deveriam merecer os 200 anos da Independência.
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Correção: na coluna da semana passada, o placar correto é 1 (e não zero) para a primeira alternativa. E de 2 a 12 (e não de 1 a 12) para a segunda. Agradeço as leituras atentas que identificaram a imprecisão.