Perguntinha rápida: o que uma candidatura a presidente e uma partida de tênis têm em comum?
Resposta mais rápida ainda: vence quem erra menos.
Na política, como nas quadras de tênis, há saques e jogadas irresistíveis, impossíveis de serem rebatidos. Mas a maioria dos pontos não é conquistada: é desperdiçada pelo adversário em movimentos e táticas equivocadas ou em bobagens memoráveis. O governo Olívio Dutra, no Rio Grande do Sul, por exemplo, ficou marcado pela exibição da bandeira de Cuba numa sacada do Piratini já no dia da posse. Alguém mais empolgado teve a ideia da bandeira, que provavelmente lhe pareceu luminosa na hora, e o governo passou os quatro anos seguintes convivendo com a noção de que pretendia implantar uma Cuba no Brasil meridional.
No Brasil, o confronto dos dois líderes nas pesquisas ao Planalto evidencia uma somatória de erros que pode abalar profundamente uma ou até as duas candidaturas. Lula e Bolsonaro nem precisam se xingar mutuamente. Como no caso da bandeira de Cuba, só precisam mostrar o que o adversário diz ou faz para que o outro marque pontos. As redes de Bolsonaro, por exemplo, espalham um vídeo do próprio PT, no qual seus dirigentes dão vivas ao PCO, partido marxista que incensa Lula, ataca as urnas eletrônicas e descrê das instituições democráticas. O arsenal disponível é abundante. Além da rapinagem em governos passados, há os acenos do PT ao esquerdismo infantil e radical ou de retrocessos em favor de corporações e dos sindicatos ligados ao partido – fora a gravação do próprio Geraldo Alckmin na campanha de 2018 dizendo que Lula, agora seu possível companheiro de chapa ao Planalto, “depois de quebrar o Brasil, quer voltar à cena do crime”
Lula e o PT também não precisam garimpar arquivos para grelhar a imagem de Bolsonaro, tamanha a quantidade de sandices acumuladas pelo presidente, que vão dos ataques à democracia à peroração insana contra as vacinas e as medidas de proteção contra a covid, sem considerar as promessas e previsões descumpridas. E elas podem ser contadas aos borbotões, como a proteção à sua própria família, o abraço apertado no Centrão e a filiação de Bolsonaro ao PL, uma capitania de Valdemar Costa Neto, condenado a sete anos e 10 meses de prisão por causa do Mensalão, ora só, do PT.
Palavras e gestos são símbolos fortes na política e, no mundo da internet, não caem facilmente no esquecimento. Como Lula e Bolsonaro erraram muito e a campanha nem começou ainda, tanto um como outro podem ser eliminados do campeonato, tal a quantidade de saques e jogadas perdidas. Para tanto, basta que ambos – e toda a fila de adversários que ambiciona chegar ao segundo turno - sigam exibindo sem fim suas raquetadas na rede ou as bolas para fora da quadra.