Já contei essa história algumas vezes. No final do século X, o viking Eric, o Vermelho, foi banido e navegou para Oeste, onde topou com o que é hoje a Groenlândia, um amontoado de rochas e gelo, com tímidas e esporádicas vegetações rasteiras. Para atrair o restante de sua tribo, batizou o território de Groenland ou “Terra Verde”. Há mil anos, portanto, a ilha ganhou um slogan bacana, mas nem por isso nasceu uma árvore nela.
As descobertas de Eric sobre o marketing são uma bela contribuição no momento em que Porto Alegre está para escolher sua logomarca. Com qualquer um dos três finalistas, os porto-alegrenses estarão bem representados. Só que não basta ter uma vitrine vistosa. É a loja que não pode frustrar os clientes.
O Pacto Alegre e o Instituto Caldeira, com seu fomento à inovação, estão entre os maiores avanços da história recente de Porto Alegre, mas a cidade ainda não encontrou sua alma mais recôndita para explorá-la como uma marca aos olhos do mundo e, assim, atrair investimentos, renda e empregos. Algumas capitais brasileiras já chegaram lá. O Rio é a cidade do turismo e da alegria e São Paulo, a da gastronomia e dos negócios. E, graças ao visionarismo de Jaime Lerner, a então insípida Curitiba foi transformada em símbolo mundial de cidade sustentável em países em desenvolvimento.
Em décadas idas, com os fóruns sociais mundiais, procurou-se fazer da capital dos gaúchos uma meca das esquerdas. Nenhuma iniciativa ancorada em ideologia, porém, resiste ao tempo e a trocas de governos. Porto Alegre tem já submarcas promissoras, de todo modo. O distrito cervejeiro, o Gre-Nal, a nova orla do Guaíba e o ambiente de startups são algumas delas, mas tenho para mim que a vocação natural de Porto Alegre – da qual derivam as demais – se assenta sobre o tripé educação, saúde e cultura. As universidades de ponta para padrões latino-americanos, a qualidade de alguns hospitais e médicos de referência (caso consigam se unir) e o entusiasmo com que os porto-alegrenses abraçam as manifestações culturais locais – da Feira do Livro ao Porto Alegre Em Cena – são um enorme e ainda pouco aproveitado manancial.
Ao fim de seu primeiro ano, a gestão de Sebastião Melo teve o condão de combinar a correta atuação como zeladoria da cidade com uma visão alargada para o futuro, como o projeto para o Centro. Agora, quando Porto Alegre está para celebrar 250 anos, a nova logomarca tem tudo para ser o ponto de partida para algo maior, como ambiciona o Pacto Alegre desde a origem. Desencavar e embalar as vocações da cidade, vencer os narizes torcidos e os derrotistas e superar as rivalidades são a base para uma marca verdadeira, densa, duradoura e, sobretudo, que gere muitos frutos por décadas à frente.