Haia, Holanda - Se fosse possível medir o grau de avanço civilizatório de uma sociedade, deveria se adotar um índice de atenção para com os museus. No topo do museumômetro, despontariam países e cidades com muitos e modernos museus com alta presença de público e entusiasmo de governos. No grau mais baixo, estaria o desprezo geral pela criação, manutenção e exposição dos acervos culturais e históricos.
Aqui na Holanda, o museumômetro registra um 9 – o país não ganha a nota máxima porque muitos só abrem das 11h às 17h. Há museus para todos os gostos, incluindo os bizarros (esses, geralmente, são apenas armadilhas para turistas), e alguns dos mais movimentados e espetaculares museus de arte do planeta, o que é de esperar na pátria de Van Gogh e Rembrandt. Mas o que vale mesmo é o esmero com os “museus médios” – como o ferroviário (Utrecht) e o marítimo (Roterdã) - e, principalmente, com os pequenos museus comunitários de cidadezinhas.
Numa delas, na quase impronunciável Leidschendam, nas vizinhanças de Haia, conheci um desses modestos museus locais em que se misturam peças escavadas do período romano com instrumentos musicais antigos e obras de artistas da terra. Como estava funcionando em um domingo, perguntei a uma funcionária já bem passada dos 70, feliz com a aparição de estrangeiros, sobre quem geria o museu. “É a prefeitura, mas ela não tem gente suficiente. Nós somos voluntários e mantemos o museu aberto no domingo porque ele é importante para a cidade”. Explica-se o grau civilizatório da Holanda.
O Rio Grande do Sul poderia estar numa escala superior do museumômetro. No campo científico, temos um museu de padrão mundial – o de Ciências e Tecnologia da PUC. Nas artes, o Iberê segue uma referência. E, no militar, o renovado e bem cuidado Museu do Exército, em Porto Alegre, é uma exceção no descaso dos brasileiros com seu patrimônio – melhor nem lembrar a tragédia do Museu Nacional e os prédios e acervos em decomposição. Mas o Rio Grande do Sul fica devendo em público e financiamento. Sem frequência e sem recursos oficiais e privados, abnegados curadores e gestores se limitam à abnegação, e assim seguimos abrindo mão de um enorme potencial turístico e educacional.
Há também lapsos consideráveis. O novo Instituto de Educação prevê um Museu do Amanhã, o que é muito salutar, mas poderia incluir também um memorial que reconstituísse a história do ensino no Estado e, com ela, parte do orgulho de ser professor. As etnias e suas contribuições para a formação do Rio Grande atual – africanos, judeus, alemães, árabes, italianos, castelhanos e portugueses, entre outros – mereciam um grande museu conjunto, além de outros individuais (alguns já têm embriões), todos modernos e interativos, como devem ser os museus de hoje. Nota 5, pois, raspando, para o Rio Grande do Sul.