Haia, Holanda – Um ano e meio depois de o coronavírus se infiltrar em todos os aspectos da vida brasileira, o Brasil tem pela primeira vez motivos para deixar a posição de inferioridade no combate à Covid – e por isso mesmo o país deve estar alerta para não repetir os erros da Europa. Aqui na Holanda, por exemplo, há uma sensação de perplexidade com os recordes diários de contaminação. Nesta semana, a média de casos era 20 vezes mais alta que no Brasil. embora as taxas de mortalidade se igualem em razão da maior vacinação plena (73% a 61%) e das melhores condições hospitalares. Desde junho, há vacinas para todos e até imigrantes ilegais podem se imunizar com a garantia de sigilo de sua condição. Mas bastou um grupo de 9% de recalcitrantes, somado a um crescimento exponencial de contágio em crianças, para que o vírus mais uma vez demonstrasse sua desenvoltura.
Quando todos começavam a fazer festas e ver a Covid pelo retrovisor, eis que a Holanda se descobriu em meio a uma nova onda de restrições. Estádios sem torcida, lojas e supermercados fechados a partir das 20h, exigência de prova de vacinação para acessar restaurantes e museus. Estouraram lamentos e protestos. Aos poucos, a paciência com os não-vacinados vai se esgotando aqui e pelo mundo. Já se fala abertamente que os resistentes à vacina optaram pelo risco e devem pagar por isso – no caso de Singapura com o bolso mesmo, a parte mais sensível do corpo. O país asiático vacinou plenamente mais de 80% da população e um novo surto entre os não-vacinados fez o governo decidir que os sem-vacina devem custear seu tratamento, na linha de quem não quis se vacinar ou completar as duas doses deve assumir sua responsabilidade.
Na Áustria, não adiantou a extrema-direita espernear. Não-vacinados só podem sair de casa em algumas situações, como fazer compras essenciais. A medida é um tanto inútil, porque fácil de burlar, mas evidencia o crescente arsenal para tentar levar negacionistas à fila de vacinação. Desta vez, Áustria, Holanda, Alemanha e outros países europeus teriam algo a aprender com os brasileiros. Na Holanda, as máscaras são raras, e mesmo em farmácias os atendentes trabalham com nariz e boca descobertos. Além disso, há uma pasmaceira no governo com as doses de reforço, que iriam começar em janeiro para quem tem mais de 80 anos e só agora foram antecipadas.
Enquanto isso, o Ministério da Saúde no Brasil deu um passo gigantesco ao liberar doses de reforço para todos acima de 18 anos cinco meses após a vacinação plena. Como se constata pelo atual surto na Europa, baixar a guarda e achar que o jogo acabou é abrir caminho para a volta do vírus. O Brasil está conseguindo empatar a partida. Não precisamos levar um gol no finalzinho do segundo tempo..