Para momentos desesperadores, gestos desesperados. O que mais Dilma tinha a perder ao nomear Lula como seu ministro? O poder já lhe esvaía entre os dedos desde o início do segundo mandato. Com o avanço da Lava-Jato e do processo de impeachment, o governo se derretia em praça pública. E, desde as manifestações de domingo, a manutenção de Dilma no poder estava mais para miragem do que para realidade. Isolada, desprestigiada e alvo de crítica até no próprio partido, a presidente era um zumbi político a zanzar entre um plano mirabolante e anúncios aos quais pouca gente dá ouvidos.
Ao entregar o poder a Lula, Dilma tenta dar um cavalo de pau no rumo que lhe era inexorável. Entre a certeza do fim em fogo lento e a incerteza de salvar o mandato ou apressar seu fim, a presidente optou pela segunda alternativa, que ao menos lhe dá uma chance de sobrevida. A primeira tarefa de Lula será segurar o PMDB no governo. A segunda, impedir que a bancada de Dilma desça para menos de 171 deputados e aprove a abertura do processo de impeachment.
Como Lula conseguirá tais façanhas é uma incógnita. O ex-presidente vive do passado de glória em um presente inóspito. Se Lula reverter o destino do segundo mandato, se credencia fortemente para 2018. Se não, como comandante do projeto que se instaurou no Planalto em 2003, naufraga junto com o barco do PT e seu plano de poder para sempre.