Toda década tem seu escândalo máster. Nos anos 2000, foi o Mensalão, que quase derrubou o governo Lula. A mesada distribuída a parlamentares em permuta por apoio foi troco diante do escândalo-mor da década seguinte. A Lava-Jato, um propinoduto com origem na Petrobras, redesenhou a política brasileira e acendeu as esperanças de que a cleptocracia botaria as barbas de molho, mas cá estamos de novo.
Não precisa ser pitonisa ou profeta charlatão de virada de ano para vislumbrar que o grande escândalo desta década tem tudo para estourar em 2025, 20 anos após o Mensalão e uma década após o auge da Lava-Jato. A nova fonte de corrupção das grossas jorra das emendas parlamentares, que completam o bingo da tentação para a safadeza: enorme montante de dinheiro público, fácil manipulação, grande capilaridade e difícil fiscalização. Além disso, envolve muita gente, de boa ou má-fé, que não têm interesse em pôr fim a um escoadouro de verbas decisivo para o xadrez eleitoral.
Tancredo Neves dizia que a esperteza, quando muita, engole o dono. Estamos quase lá na Brasília da volúpia com as emendas. Não basta elas serem uma aberração por natureza — a função dos parlamentos é legislar e fiscalizar, e não executar o orçamento, que deveria ser prerrogativa do Executivo. O valor das emendas cresceu tanto — de R$ 9,6 bilhões em 2015 para cerca de R$ 50 bilhões em 2024 — e o processo se tornou tão opaco e tortuoso que é questão de tempo a coisa toda explodir, como ocorreu na Petrobras, que se tornara um festim para salafrários.
Definitivamente, 2025 não será um ano monótono
Os sinais de que um escândalo dos grandes bate à porta estão aí. O mais evidente é o Congresso insistir em emendas anônimas, quando, em tese, tudo o que um parlamentar deseja é ser reconhecido por ter despachado uma verba para sua base. A sofreguidão com que alguns congressistas se lançam para ampliar e garantir as verbas, inclusive ao manter como refém um governo tíbio, é tal que dificilmente pode ser explicada apenas pelo fervor cívico de comprar equipamentos hospitalares. A reação desproporcional ao bloqueio de emendas acendeu mais um alerta.
Por último, mas não menos relevante, ganha corpo no Judiciário um paladino contra a farra das emendas que não parece ter medo de cara feia. Ex-senador, conhecedor dos escaninhos das mutretas, Flávio Dino pode representar o que Joaquim Barbosa foi no Mensalão e Sergio Moro, no Petrolão. O que mais eriça congressistas que sabem o que fizeram, contudo, é que, junto com o bloqueio parcial, Flávio Dino ordenou à Polícia Federal investigar a trama de R$ 4,2 bilhões em emendas sem transparência. Definitivamente, 2025 não será um ano monótono.