Literatura plena, sonho e realidade: nunca se diferenciam inteiramente.
Numa das janelas de meu quarto florescia uma soberba magnólia branca. Em alguma coluna de décadas atrás, cantei sua beleza surpreendente, pois um dia abrindo as persianas, aqueles cálices de uma infinita elegância, uns já abertos, curvos, alvos nas beiradas e púrpura no interior. O perfume quase tonteava.
Meu dia estava iluminado, era minha flor predileta, e rara naqueles dias.
Lembro dela como símbolo de esperança nestes dias em que tanto me falam dela, porque de verdade como tantos doentes, tanto dela preciso.
Por delicadeza e inspiração, muitas telas de minha filha Susana apresentam essa flor.
Por esquisitice, acho que nenhum livro meu a menciona.
Mas estão aqui, minhas magnólias ilusoriamente alvas. Vistas de longe são arbustos imaculados, mas a gente sabe de seu interior púrpura.
Não é assim a esperança e a vida? Queremos que sejam alvas, alvíssimas, mas amamos seu simbolismo, mesmo com as nuances de rosa-clarinho escurecendo no coração da corola mágica até um púrpura quase negro.
Amamos a vida mesmo na incerteza e na dor, como amamos essa flor estranha, inesperada, cujo nome eu sonhava ter, o que minha família achava ridículo.
E não é que um dia eu viria a conhecer duas irmãs “magnólia” e “margarida” e as invejei profundamente?
Então, magnólias, olhem por mim, me deem o dom de não só acreditar, mas confiar e conseguir luz, não sombra, e esse amor pela vida, o voo das nuvens, o anúncio dos sabiás varando a madrugada, e o carinho de amigas, família, leitores, e das lindas alegres netas que logo chegam para almoçar.