Muitas vezes, assistindo ao espetáculo entre maravilhoso e horrível do mundo, também aqui ao meu redor, me pergunto se – e por que – estaremos mais agressivos.
Não preciso ir longe: basta ligar a tevê. Claro que posso escolher o positivo, entrevistas, concertos, natureza. Mas também preciso saber da realidade, porque sou uma mulher do meu tempo e, como já escrevi, dele dou testemunho em cada frase ou verso, crônica ou romance. Do meu jeito, não muito engajado e em nada partidário – já não acredito muito em partidos, que proliferam como ervas daninhas –, mas totalmente engajada no humano: decência, dignidade, direitos, deveres, alegrias, vida (e morte, que faz parte).
Sempre que generalizo estou errando, mas também isso faz parte.
Quero dizer que sempre que generalizo estou errando, mas também isso faz parte. Não há espaço nem tempo, no jornal, nem na minha vida diária, para enumerar o que não precise ser simplificado numa generalização.
Mais que tudo: estar de olho no outro lado das coisas, das pessoas, dos conceitos. Então, sim, tenho nos achado muito agressivos. Hostis a tudo que não é do nosso lado, nossa raça, nossa cultura ou nossa ignorância. Muito melancólico: redes sociais, noticiosos de tevê, jornal ou rádio, discussões em bar, reuniões de família ou de amigos... a qualquer momento pode irromper a voz bruta das acusações, do desprezo, da ironia.
Verdade que os exemplos que vêm do alto, onde estão ou deveriam estar os líderes a nos indicarem caminhos de comportamento, ambições, projetos e sonhos, não andam lá grande coisa. Confusão e incertezas, insegurança e as vezes cretinice, também no Exterior. Indiferença com a dor alheia, de parte das mais importantes autoridades do mundo: centenas, milhares de velhos, mulheres, crianças, expulsos, abandonados, entregues à sorte mais maligna, e, além de uns pequenos protestos, ninguém faz grande coisa. Não é responsabilidade nossa e na verdade pouco podemos fazer. A roda do tempo gira implacável, os costumes vão mudando, para frente, para trás, e nós, olhando. Sentindo, muitas vezes sem conseguir explicar, que há um outro lado em tudo isso.
Confundidos, reclamamos: mundo injusto, patrões exigentes, pais ou mães distraídos ou ocupados demais, amigos desleais, amantes traidores, salário pequeno, enfim, nos queixamos. Mas em geral isso disfarça a nossa arrogância – porque queremos ser considerados os melhores. Mesmo nos iludindo, achamos talvez que somos os melhores, e que merecemos começar o primeiro emprego com posto e salário de gerente, por exemplo.
Na verdade, no fundo mais fundo, há sempre o outro lado: a arrogância disfarça a insegurança; a brutalidade esconde medo da própria delicadeza; o dedo na cara do outro esconde o impulso de recuar com as costas contra a parede; o cinismo disfarça o romântico desejo de companhia e amor verdadeiros. A preguiça disfarça o cansaço ou a enfermidade; a profusão de afetos elaborados, traições e crueldades esconde possivelmente um agudo, sofrido, desejo de ternura e abraço.
Enfim, se estamos mais agressivos, estaremos quem sabe mais assustados, mais, mais... órfãos?