Quando eu era adolescentezinha, muito envergonhadamente nos referíamos ao período menstrual como “aqueles dias” ou eufemismos variados. Risinhos tapando a boca com a mão. Sei de amigas cujos pais, compadres do farmacêutico, compravam os Modess (únicos disponíveis, eu acho) na farmácia dele, logo aos montes, pois iam também para as mães das gurias. Hoje, nem sei se a meninada comenta esses dias, pois graças aos deuses e ao progresso (que nem sempre merece agradecimentos), quase tudo ficou natural. Algumas coisas, naturais demais. Pelo menos para quem tem tantas décadas de vida vivida. Fora a sonhada, claro.
Mas minha intenção hoje não é falar em menstruação, nem em pudores arcaicos, e sim sobre aqueles dias em nossas vidas ou vidinhas, em que coisas demais parecem dar errado. Tipo: a mimadíssima cachorrinha fez cocô no meio da sala, coisa que não costuma fazer, e você pisou dentro.
A cozinheira pediu dispensa, pois o sogro está doente, e era justo no dia em que temos visitas para o almoço. O cano embaixo da pia da cozinha vazando, ou vaso sanitário entupindo, o zelador da casa da praia ou da Serra manda um Whats (todo mundo hoje é moderno) avisando que apareceu uma umidade no teto do nosso quarto. Apesar da dedetização recente, aparece uma baratona no chão do banheiro: veio voando de fora, a gente tenta explicar pra si mesma... e por aí vai. Tanta coisa no mesmo dia? Dia de pouco, véspera de muito. Ou: pra quem pediu um prato de sopa, Deus dá logo um panelão. O pior é que esses ditados populares em geral dão certo.
Rezamos para que ninguém da família, tão amada, sofra o menor acidente, nem mesmo uma simples dor de cabeça, pois a nossa já está de matar. O computador está lentíssimo, ninguém sabe explicar por que, e devo escrever minha coluna. Tenho acordado mais cansada, porque o calor nos obriga ao split ligado, e com o tempo, semanas, meses, isso começa a fazer mais mal do que bem. Se desligo, o calor me abate e odeio transpirar. Mas não dá pra andar fechada numa bolha de gelo imaginária. Então...
A gente suspira: o que mais vai acontecer hoje?
Aí abrimos o jornal, ligamos a televisão, porque em parte sou viciada em notícias, em parte não dá pra se alienar demais, então morreu um conhecido querido, ocorreu mais um desastre natural, e vergonhosamente grandes empresas propõem um pagamento miserável a vítimas das recentes grandes desgraças evitáveis. Sinto vergonha por eles: pois as vítimas e parentes terão de lutar na Justiça, o que pode levar anos. Vítimas de outros acidentes gravíssimos continuam sem receber nada, ou só esmolas.
Mas, afinal, a coluna, meio diferente das habituais, está aparecendo, e quando abri a janela, às seis da manhã, no meio do parque que não frequento mas curto imensamente, um inesperado nevoeiro, nuvenzinha, se enrosca em algumas copas de árvores como o rastro de um anjo que acabasse de passar por ali.
Então, apesar de tudo, bom dia, meus queridos!!!