Depois de quatro anos, em merecidas férias, voltamos a duas cidades que curtimos muito: Atenas e Roma. Atenas pela fascinação do Vicente, que escreve sobre tragédia grega, e pelo meu amor aos lugares revisitados – e alguns novos, como o campo de batalha e o museu (pequeno, remoto, excelente!) de Maratona, ou na própria Atenas o Keramikos, que não conhecíamos, cemitério multissecular com lápides comoventes e muito da história grega. As inscrições, mais uma vez, me mostraram que os sentimentos humanos pouco mudam através dos tempos.
De uma belíssima Atenas e de uma Roma solene, mas também um pouco doida, finalmente a volta para casa.
Sem acreditar, consegui, com bem mais limitações do que da outra vez, subir a Acrópole. Depois de cada descanso com o pacientíssimo marido, eu me sentia mais confiante. Quando cheguei ao Partenon, era uma deusa (meio fora de forma, ofegante, mas feliz). Além da história e da beleza, cenas como uma oriental jovem de longos cabelos e vestido esvoaçante descendo lá do alto com delicados sapatinhos de salto... doze. E o mais engraçado comentário, enquanto descansava numa pedra: uma jovem senhora, contemplando com certo enfado as colunas do Partenon, diz a outra em seu idioma, que eu conhecia: "Bem, pra ser franca, aqui na Grécia essas coisas são todas muito parecidas". Meu amigo Moreno jura já ter escutado: "Tanto esforço pra chegar aqui e ver só pedra derrubada!".
Embaixo da Acrópole, o novo museu, que ainda não conhecíamos, fabuloso. Por toda parte, em todos os museus e locais, limpeza, cuidados, organização. Claro que, na véspera de irmos a Roma, cometi a façanha de perder o passaporte. Perdido, sim, não roubado. Entrando e saindo de táxi, caiu da minha mão ou da bolsa: eu tinha de pegar nele o dinheiro do taxista. Com ele, foram-se cartão de crédito e todos os meus (poucos) euros. No primeiro momento, bati pé, infantil: quero ir pra casa, quero ir pra casa. Por fim, tudo deu certíssimo: uma educada polícia ateniense para visitantes fez em minutos o boletim de ocorrência, e a embaixada brasileira, que naquela sexta fecharia das duas até segunda-feira, em poucas horas me entregou um passaporte novo, perfeito.
Depois, Roma: a velha senhora com suas ruelas, segredos, monumentos, fontes e palácios, a cada dois passos ruínas incalculáveis. Outro hotel aconchegante, num bairro onde tudo ressumava o que não tínhamos: fortuna. As grifes mais incríveis ao nosso lado, mas nós queríamos a Piazza Navona, a Piazza di Spagna, o Palácio Barberini, que da última vez estava fechado, a incrível escada de Borromini (que só descemos, claro), o meu predileto, o Panteão, e o Vaticano, e tanta coisa mais. Ainda por cima, a surpresa da qual Vicente e Bernardete Kronfeld, da Áustria, foram cúmplices: na sala do térreo do hotel, lá estava minha amiga da vida inteira, minha comadre Christina Harbich, sentadinha no sofá com cara de nada, um belo champanhe na mão. (Em qualquer lugar do mundo, o afeto é o prêmio maior.)
De uma belíssima Atenas e de uma Roma solene, mas também um pouco doida, finalmente a volta para casa depois de um tempo incalculável dentro do avião, chatíssima coisa se for de dia (à noite, um soninho disfarça o tempo) – e a alegria dos reencontros.
E o Brasil? Bem, aí, Deus nos ajude.