Eu realmente, na hora de escrever a coluna passada com número 1, indicando que este seria o 2, pensava em retomar e alongar o tema “autoridade”, pois, naquele seminário de Direito de Família em Gramado, destacou-se a preocupação dos presentes com a questão da juventude e da infância, relativo a esse assunto. Mas as coisas acontecem, umas se sobrepõem às outras, ao menos momentaneamente, e fiquei dominada por dois outros assuntos:
1. O horror que se desenrola em fronteiras americanas com crianças e adolescentes separados de seus pais à moda Auschwitz (perdoem se exagero, mas considero isso apenas um começo... com os States saindo da Comissão de Direitos Humanos da ONU), porque Mr. Trump quer dar uma boa lição nos imigrantes ilegais ou refugiados. São famílias que tudo deixaram na esperança de uma acolhida humana em uma nova pátria. Como milhões fizeram décadas e séculos atrás, construindo o país mais poderoso do mundo. Mas, para o atual presidente, imigrantes em geral são predadores, criminosos, estupradores e, segundo um dos seus últimos nobres tuítes, “vão empestar” o país.
Desta vez perdi a graça de escrever sobre autoridade em família, em escola, qualquer grupo, e nação.
Uma dolorosa, pungente gravação mostrou ao mundo o desespero dessas crianças, clamando, urrando pelos pais. Senti uma profunda, triste vergonha de ser humana ao assistir a essa desgraça. Senti imensamente que muita gente por lá ou aqui ainda ache que isso é necessário e legal. (Há indícios de que a desumanidade com as crianças seria trocada por votos em favor do “muro” entre EUA e México...)
2. Meu segundo susto – nem sei por que essas coisas entre nós ainda me espantam – foi que vários senhores deputados federais, alguns conhecidos nossos, assinaram um importante documento liberando denunciados ou condenados da Lava-Jato, enfraquecendo a própria, para o mal de todos nós, sem saber o que estavam assinando!!! “Não prestei atenção...”, “Nem li direito...”, “Fiz o que me pediam e nem me dei conta do que era...”. Foram as desculpas quando apanhados em flagrante. Outro ainda disse com franqueza “Se for pra prejudicar fulano, eu assino qualquer coisa”.
Representantes do povo, muitas vezes reeleitos por nós, assinam em nosso nome documentos importantes. Apanhados, sem corar de vergonha, declaram com simplicidade que assinaram sem saber. Botaram num papel qualquer o seu nome, com o qual nos representam, portanto assinaram por nós, que de nada sabíamos. Assim caminha o Brasil. Assim chegamos onde estamos.
Desta vez perdi a graça de escrever sobre autoridade em família, em escola, qualquer grupo, e nação. Ia comentar também um dos itens apresentados no belo congresso, a sexualização precoce da meninada, com pais perplexos, intimidados pela autoridade chamada “coerção social” – que não vem de uma pessoa, mas do grupo em que vivemos. Força insidiosa que ninguém assina, mas que diz, por exemplo, que não nascemos com gêneros definidos, que meninos devem brincar com bonecas e meninas com carrinhos e outras insanidades, que nada têm a ver com respeito a homossexuais, transgêneros e outros. Talvez o sagrado bom senso possa salvar a meninada: vou falar nisso algum dia.
A bizarra e cruel atitude do governo americano com famílias desesperadas e o descaso de ditos líderes com a importância de seu próprio nome pesaram mais sobre mim. E isso quis dividir com meus leitores.