Está chegando a hora. Estar escalado para uma cobertura de Copa do Mundo é o momento mais importante da trajetória de qualquer jornalista que atua com esporte. É a realização de um sonho. E como já cantou o Clube da Esquina - uma turma de compositores e músicos mineiros que tem como principais nomes Milton Nascimento, Lô Borges, Beto Guedes, Wagner Tiso e Toninho Horta - "sonhos não envelhecem".
Já estou começando a arrumar as coisas para a viagem, mexendo na papelada que é preciso levar. Quando passei os olhos nos passaportes antigos e vi os carimbos de África do Sul e Rússia, além de lembrar dos deslocamentos feitos dentro do território brasileiro em 2014, quando recebemos o Mundial, deu um orgulho danado.
Agora, no Catar, vem mais um baita desafio pela frente. Conhecer de perto uma cultura completamente diferente, ver lugares incríveis, saborear pratos únicos, conviver com pessoas do mundo inteiro e trabalhar bastante, é claro. Será uma correria danada e muito prazerosa nos 35 dias fora de casa. Com certeza, as horas passam voando com a série de tarefas da rotina.
Só que uma questão importante para se administrar é a saudade de quem fica em Porto Alegre. Infelizmente, a família e os amigos não podem ser colocados na bagagem. Mas, com absoluta certeza, eles estarão no coração. E, mais do que isso, com a tecnologia atual, as chamadas de vídeo na palma da mão dos smartphones colocam as pessoas que amamos em contato permanente conosco lá no outro lado do mundo. É possível compartilhar tudo, em tempo real. Isso diminui a distância.
Mas há uma questão importante em uma cobertura gigante como uma Copa do Mundo. Se a família de fato não estará fisicamente, se forma uma família da equipe que estará na linha de frente da cobertura, a partir do embarque no Salgado Filho. Em todas as experiências que tive nesse tipo de cobertura, senti que acaba se criando um vínculo muito forte entre as pessoas envolvidas.
Não só para tudo dar certo no trabalho. Nessa hora, entra em campo a parceria e a cumplicidade. Isso não pode faltar: a preocupação e o cuidado com o colega de trabalho. O tempo inteiro dividimos a ansiedade e os momentos de alegria. Torcemos e vibramos um pelo outro e pelo grupo. Mesmo com a correria, um cuida do outro. Como faz um pai, uma mãe ou um irmão. Dar o apoio quando o cansaço pega. Oferecer o ombro para quem não está com o astral legal em determinado dia. Criar um ambiente alegre de convivência para distensionar. Cumplicidade é a palavra. Claro que podem ocorrer momentos de estresse, rolar alguma discussão. Mas isso, todo mundo sabe, também é coisa de família.