A torcida do Espanyol é muito menor do que a do Barcelona. Algo assim, se consegue catar um ou dois pericos (torcedores do Espanyol) a cada 10 culés (torcedores do Barça). Porém, há algo que diferencia muito quem opta pelo lado azul de Barcelona: a paixão. Eles são poucos, mas são devotados, fiéis e ruidosos. "Somos rebeldes", se orgulham. Só assim sobrevivem ao lado de um gigante sem serem esmagados.
Nesta quinta-feira (13), eu testemunhei in loco como funciona essa relação de amor entre a torcida e o clube. Há química ali, há algo mais do que futebol. Quem estava ali, trazia uma história familiar, um grito contra o sistema imposto em azul e grená.
O Espanyol enfrentou o Sporting Gijón por vaga na final do playoff de acesso à La Liga. Funciona assim: os dois primeiros subiram direto (Levante e Valladollid). Os quatro seguintes se enfrentam em semifinal e final, ida e volta. O Espanyol havia vencido por 1 a 0, nas Astúrias, o Gijón, treinado por Miguel Ángel Ramírez. Bastava um empate nesta quinta.
O Espanyol, para lotar seu estádio, fez promoção de ingressos. Cada sócio poderia levar um acompanhante e ainda comprar entradas adicionais por 5 euros, 10 euros e 15 euros. Uma pechincha em se tratando de futebol na Espanha. Para você ter uma ideia, para ver o Europa, da quarta divisão, paguei 15 euros.
A torcida atendeu ao chamamento. Já na terça-feira (11), todos os ingressos haviam sido vendidos. Havia a previsão de que os 40 mil lugares do Stage Front Stadium estivessem ocupados. Não foi bem assim, o público foi de pouco mais de 30 mil. Porém, pareciam 50 mil.
Uma diferença entre jogos do Espanyol e do Barça é esse calor humano, a energia. Tem clima de estádio ali. À exceção do jogo contra o Napoli, todas as partidas do Barça que vi no Olímpico de Montjuic pareciam ser dentro de uma geladeira. Muito disso porque a torcida não comprou a ideia de subir o Montjuic e pelos jogos do Barça serem programa de turista. Turista, você sabe, está mais pela selfie do que pelo jogo. Em Cornellà, quem vai até faz uma selfie, mas quer mesmo é o jogo.
Conrnellà é um dos 36 pueblos (cidades) que formam o cinturão ao redor de Barcelona. Fica colada à cidade. Tanto que a linha azul do metrô vai até lá. Desce-se na última estação, pega a rambla de Cornellà e, 15 minutos depois, se depara com o Stage Front. O estádio é um caixotão. São 40 mil lugares, um tamanho ideal para estádio, todos cobertos. A arquitetura potencializa a acústica.
Como a torcida estava excitada, o estádio rugiu. Houve festa antes, com fanzone na esplanada, concentração da torcida em bares do entorno, grupos reunidos na praça em frente. Algumas filas se formaram nas entradas e alguns entraram atrasados. Perderam o mosaico em azul e branco. Mas viram um jogo ativo, de muita intensidade e com disposição de sobra. Falta um pouco de futebol na La Liga 2.
O segundo tempo foi tenso. Ramirez mandou o time à frente, e o Gijón rondou a área nos últimos 20 minutos. Até o último lance houve risco. Porém, o 0 a 0 prevaleceu. Festa azul e branca, cheia de orgulho.
Assim vive o Espanyol, dessas pequenas conquistas. Na final, agora, o Oviedo, de Alemão. Dois jogos: o de ida nas Astúrias, o de volta outra vez em Cornellà, o endereço do estádio que pulsa.