Aos 36 anos, William Campos curte os dias seguintes ao Gauchão que pode chamar de seu. A boa campanha com o Guarany de Bagé, classificando-o no G-4 e levando-o pela primeira vez a uma competição nacional são suas conquistas. O trabalho no Estrela D'Alva foi fechado com a despedida, em post nas redes sociais, na quarta-feira (13). À tarde, já em Santa Cruz do Sul, cidade que escolheu para morar, o técnico revelação do campeonato conversou com a coluna.
Você vê esse Gauchão como o da sua afirmação no mercado da Primeira Divisão?
Era o campeonato do qual precisava, para colocar o nome no mercado, dar uma afirmada. Deu tudo certo. Agora, têm surgido algumas situações, convites. Minha ideia era assumir um clube com o Brasileirão da Série C ou D no calendário, para dar sequência. Ou, daqui a pouco, pegar um time sub-20 ou sub-23 da Série A. O meu objetivo é fazer a licença da CBF, essa é uma questão importante. Alguns clubes de São Paulo me abordaram, mas sem a licença limita muito.
Você buscará qual licença?
Vou tirar a licença A. Estava trabalhando e não consegui tempo para isso. No nosso caso, no Interior, é difícil deixar o clube por 15 dias para ir tirar a licença. Por isso, nunca tirei nenhuma delas. Como completo cinco anos como técnico agora, consigo fazer direto a licença A. Há um curso agora, em abril, mas estávamos envolvidos com o Gauchão e ficou apertada nossa organização. A tendência é de que me inscreva para a edição de setembro. O Paulo Paixão (ex-preparador da Dupla, agora no Juventude), depois do jogo de sábado (9), veio conversar comigo. Foi muito legal da parte dele. Me cobrou a falta da licença e me aconselhou a fazer o mais rapidamente possível. O Rodrigo Caetano (atual executivo da CBF), em outro momento, também já havia me falado sobre essa necessidade.
O Guarany, a rigor, foi sua segunda experiência na elite. O que mudou em relação à estreia?
Eu tinha experiência na Copinha, ganhei em 2020 com o Santa Cruz, e em 2022, com o São Luiz. E também na Divisão de Acesso. O Gauchão de 2023 foi meu primeiro. Minha demissão em Ijuí foi importante para amadurecer muitas coisas. Esse primeiro ano ajudou a ter noção do nível dos outros times, conhecer jogadores, o mercado do Gauchão da Série A é diferente. Tudo isso colaborou para que pudesse montar o time no Guarany. Apenas um atleta, o Deivid, tinha atuado comigo no São Luiz. Os demais, conhecia de ver jogar ou ter enfrentado. O Gauchão, para times como o nosso, exige jogadores que conheçam a competição. O tiro é curto. Nas duas primeiras rodadas, tivemos dificuldades, e os atletas suportaram, deram respaldo ao trabalho.
O Paulo Paixão, depois do jogo de sábado, veio conversar comigo. Foi muito legal da parte dele. Me cobrou a falta da licença e me aconselhou a fazer o mais rapidamente possível. O Rodrigo Caetano, em outro momento, também já havia me falado sobre essa necessidade.
WILLIAM CAMPOS
Treinador
Você, com apenas 36 anos, já vai para o quinto ano como técnico. Foi comum nesse tempo comandar jogadores mais velhos. Como é essa relação?
Nunca tive problemas com isso. Quando assumi o São Borja, em 2019, também havia muitos atletas mais velhos. Sempre houve respeito. Procuro ouvir muito o jogador, trocar ideias, passar meu plano dentro da característica do atleta. Temos de escutá-los porque são eles que jogam. Gosto do atleta mais experiente, ele ajuda muito no vestiário, no dia a dia. No Guarany, havia o Rodrigo, o Micael, o Michel. Os dois primeiros, mais velhos do que eu, e o Michel, um ano mais novo.
Como foi trabalhar em uma cidade com história no futebol gaúcho como Bagé?
Foi muito bom. Nunca havia trabalhado lá, apenas enfrentado os times locais. A cidade respirou o time. Quando começou a engrenar, mais ainda. Abraçou o clube. Na rua, o pessoal nos abordava, conversava, elogiava bastante. A torcida ia aos treinos e, nos jogos, comparecia em bom número. Fizeram a diferença.
Procuro ouvir muito o jogador, trocar ideias. Temos de escutá-los porque são eles que jogam. Gosto do atleta mais experiente, ele ajuda muito no vestiário, no dia a dia;
WILLIAM CAMPOS
Treinador
Esse momento é quase decisivo na carreira de um técnico do Interior, o de dar o passo para romper a barreira do Estado. Como lida com isso?
É um cuidado que tem de tomar ao fazer a escolha do próximo clube. Tenho conversado com alguns treinadores que passaram por essa transição, perguntado, sentido o que me passam. Vou procurar saber qual é o projeto do clube. Independentemente da competição, tem de ser o investimento a ser feito na equipe. Tive convites, da Divisão de Acesso daqui, também da de Minas Gerais, dois clubes me procuraram. Houve também um clube de Santa Catarina. É um mercado interessante, mas o investimento seria baixo.