Aos 54 anos, Adilson Batista se sente como um estreante, um técnico no começo de carreira. O que também não deixa de ser uma verdade, depois de quase morrer em janeiro de 2021.
Um infarto o obrigou a passar por dois cateterismos, três dias na UTI e outras duas semanas em observação. Em março deste ano, o Londrina anunciou sua contratação e o tirou de dois anos de ostracismo.
Um Adilson "mais paz, mais amigo", como ele mesmo diz nesta entrevista, conduz o Londrina a uma campanha sólida nesta Série B, em que entra na reta final ainda com chances de acesso. No sábado, o Capitão América reencontra o Grêmio. Confira o papo.
Qual a sensação de chegar à reta final da Série B com esse trabalho no Londrina consolidado e tendo essa decisão contra o Grêmio?
Também estou contente com o trabalho, com os atletas, com a dedicação e o profissionalismo, o respeito pelo que estamos fazendo. Lutamos contra todas as dificuldades, que só nos que estamos no dia a dia sabemos quais são. Esse confronto com o Grêmio é muito importante, ainda existe a possibilidade de buscarmos a vaga no G-4. Ela foi diminuída (com a derrota em Campinas), mas ainda existe. Temos de fazer um jogo competitivo, tentar vencer, para ter esperança de buscar a última vaga (do acesso).
O Grêmio calcula pontuar em Londrina para fazer, do jogo contra o Bahia, o do acesso. Como espera esse rival no sábado?
O Grêmio vem para fazer um jogo duro, competitivo. Virá com o que tem de melhor, até porque terá mais de semana até receber o Bahia. O Grêmio é tradição, tem o trabalho do Renato, será um jogo duro, difícil. Teremos de fazer nosso melhor, como fizemos contra o Vasco, o Bahia e o Cruzeiro. Tivemos desatenção contra o Cruzeiro nos últimos cinco minutos, contra o Vasco fomos melhores, e, contra o Bahia, massacramos no segundo tempo todo. Temos de acreditar.
Você montou um time que sabe jogar com a bola, mas é forte fisicamente e de transições rápidas. Como se dá essa sua retomada na carreira, com um estilo de jogo diferente?
É tudo em função do material humano que encontramos aqui, as caraterísticas do time dependem dos jogadores. Vou ter a bola ou jogarei sem a bola? Estamos tendo um comportamento muito bom, essa transição nossa está muito marcante devido às características dos jogadores. A gente só reforçou esse tipo de jogo.
E a volta ao mercado, com um trabalho consistente, que te recoloca na vitrina?
O trabalho, já estou há muitos anos no futebol, tenho experiência. Tenho crescido, amadurecido, melhorado em muitos aspectos. A alegria se dá mais em função do coração, do problema que tive recentemente (Adilson sofreu um infarto em janeiro de 2021). Eu fico muito feliz pelo que está acontecendo. Muita gente tem elogiado.
O problema cardíaco que você o mudou também no aspecto profissional?
O susto não precisava ter passado. Quase morri. A dor foi forte, deu tempo de socorrer. Se não tivesse sido atleta, teria morrido. Acho que é sempre bom parar, pensar, rever, observar algumas coisas nas quais viemos melhorando. Estamos em processo de crescimento, de aprendizado. Deu tudo certo, o Londrina abriu as portas, a cidade nos acolheu, o respeito que existe dos jogadores, a dedicação. Fazemos por merecer (resultados). Moramos no CT, respiramos futebol, estamos olhando vídeos, tentando corrigir, preparando os treinos.
Você trabalha hoje com auxiliar que era fã em 1995, viajou ao seu lado na volta de Tóquio, depois do Mundial, e que foi seu estagiário no Grêmio. Como é a relação com o Cyro Leães?
A história é muito legal. Em 2003, quando voltei como técnico, em 2003, o Cyro fazia alguns trabalhos de scout para o clube, ali já foi encaixando, existiu essa aproximação. Já via potencial nele. Depois, o levei para outros clubes (América-MG, Cruzeiro, Ceará). O Cyro é dedicado, estudioso, competente, um menino atualizado, tem me ajudado muito. A minha evolução deve-se muito ao grande trabalho que ele faz.
Como funciona essa relação de técnico e auxiliar?
Eu observo mais, sou mais pontual, mais detalhista, assertivo em algumas coisas, que o dia a dia, o treino, a elaboração, essas trocas. Ter um profissional como o Cyro facilita demais teu trabalho, dá tranquilidade, segurança, para ver outras coisas. Melhorei gestão, sou mais paz, mais amigo, mais calmo e respeitoso. Hoje, sou de conversar mais, mostrar, explicar, ajudar o profissional a crescer. Nossa relação funciona tipo o que acontece na Europa, como um manager. Evidentemente, estou na linha de frente em tudo, na elaboração, no processo, na execução, na parte da análise. Comandar o time demanda um monte de tarefas que consomem o treinador. Hoje, eu delego muita coisa porque confio na capacidade dele.
Por fim, você perdeu o Caprini, que virou um jogador importante no teu time. Como pretende armar o Londrina para sábado?
O Caprini, quando cheguei, era ponta-esquerda. Eu falei, como sou das antigas, que pretendia ver nele uma espécie de Bruno Conti (atacante italiano dos anos 1980). Ou um Robben. Não vejo problema de o canhoto jogar pela direita. Caprini está sendo muito importante, tem nos ajudado demais. Foi expulso injustamente. Tenho outros atacantes, ainda vamos pensar em como montar o time.