As mãos que evitam o gol são as mesmas que pintam. Matheus Marx, 25 anos, é goleiro do time de futsete do Grêmio e um dos destaques do time. Mas também é artista e transforma paredes em murais com formas ousadas e coloridas. Através do Instagram, topei quase de forma acidental com a história inusitada de Matheus, em que se misturam como as cores o goleiro, o @matheusmarx96, e o artista, o @marxpintor. O futebol começou cedo, aos nove aons. A arte bem mais tarde, há três anos, como forma de desanuviar a cabeça depois de uma desilusão amorosa. Nesta semana, o goleiro e o pintor atenderam à coluna e contaram suas histórias feitas à mão. Confira:
Como o goleiro e o artista convivem e conciliam o tempo? Vi no seu Instagram que os treinos nos últimos dois anos haviam atrapalhado a produção do artista?
Bem assim. A família tem uma pousada aqui no bairro Agronomia, na zona leste da Capital. De uns três anos para cá, comecei a entrar nesse mundo da pintura.
Mas você já pintava ou descobriu um dom tardio?
Não tinha esse dom. Ou não sabia, na verdade. O que aconteceu foi que, há cerca de três anos, numa noite de verão, pensei em fazer uma pintura no meu quarto. Eu desenhava, mas nunca havia mexido com tinta. Ainda mais em parede, em grande escala. Digamos que eu tinha o gosto pela pintura, mas não sabia (risos). Tudo veio a partir de um fim de relacionamento. Desde lá, pintei outros quartos da pousada, pubs e bares.
A primeira pintura, portanto, foi na parede do quarto?
Comecei no meu quarto, sim. Aí, chamava parentes, amigos lá e dizia: "Tenho uma novidade, preciso mostrar". Eles me acompanhavam até o quarto. Como a pintura era no alto, eu ficava embaixo, observando a reação deles, as expressões nos rostos. Isso me encantou, me dominou. A partir daí, não parei de fazer, para mostrar as pessoas um pouco da minha arte.
E o jogador, como se formou o goleiro Marx?
A bola, desde sempre, esteve presente. Desde os nove anos. Estudei no Marista Champagnat e jogava na escola. Fui me destacando e cheguei ao Grêmio. Joguei na escolinha, no Cristal, fiz seleções na base. Depois, atuei no Sporting Sul, um clube de formação na Zona Sul. Lá, fui companheiro do Raphinha, hoje no Leeds e na Seleção. Passei ainda pelo Porto Alegre, São José e Cruzeiro. Mas chegou um momento em que não deu mais. Os empresários tomaram conta e, quem tem contato e amigos, tem tudo. Também não tinha tanta bola assim (risos). Decidi estudar, cursei hotelaria na PUCRS, pensando nos negócios aqui da família.
E como surgiu o futebol sete do Grêmio?
Comecei a jogar futsete no Rosario Central, um time de Porto Alegre que ficou famoso por ganhar os uniformes do original argentino. Me destaque, decidi dois campeonatos pelo time. Foi quanto o Grêmio me chamou, em um projeto sério, em que remunerava os atletas e exigia rotina de treinos, de atletas. Antes eu pagava para jogar, agora estou recebendo.
Nesse período de férias, portanto, sai o goleiro e entra o artista?
Estou pintando a rua toda aqui. O mercadinho já foi, o muro da esquina já foi, a nossa fachada também. Mais uns dois ou três vizinhos estão na fila. Criei um atelier dentro da pousada, é meu espaço de criação. Comecei a fazer, agora, outro tipo de arte, são luminárias, com casca de coqueiros.
As mãos que pintam são as mesmas que defendem. Teme uma lesão que impeça de pintar por algum tempo?
Boa pergunta. Goleiro é a arte de ser diferente. Acho que isso ajuda também. Tu não podes ligar para o que os outros vão pensar. Tem de fazer o que sente, o que deve fazer. Graças a Deus, nunca tive problema de lesão. Mas tem de se cuidar.