O Real Madrid, faz algum tempo, se define não como um clube, mas como uma gigante máquina de entretenimento. O projeto é virar a Disney do futebol. Bom, os astros, ele já tinha. Faltava o parque mágico. Isso ele terá no final de 2022.
O mítico Santiago Bernabéu passa por uma transformação total e, aos 75 anos, virará uma arena multiuso de verdade. A reforma entra na reta final. O Real tem aprovada uma linha de crédito de 575 milhões de euros para a obra. Já gastou a metade desse valor e, no dia 20, reúne os associados em assembleia para que deem o sinal verde e autorizem a usar mais uma fatia desse financiamento.
Quando lançou o concurso para escolha do projeto de reforma do Bernabéu, o presidente do Real Madrid, Florentino Pérez, só fez uma exigência aos estúdios de arquitetura: que fosse uma transformação total do estádio capaz de colocá-lo entre os símbolos da arquitetura moderna.
Florentino queria ver a casa do clube como uma referência mundial, como são o Big Ben londrino e a Ópera de Sydney. Por trás desse visual icônico, é claro, o projeto deveria trazer soluções para que o Bernabéu virasse um espaço para uso os 365 dias do ano e não apenas para o futebol a cada 10 ou 15 dias.
O projeto vencedor foi assinado por três dos maiores estúdios de arquitetura da Europa, sendo um de Madri, outro da Catalunha e um terceiro alemão. Por dentro, o Bernabéu sofrerá menos intervenções estéticas. Por fora, no entanto, será transfigurado.
O estádio todo ganhou uma capa de aço inoxidável. Ela será fosca e lembra titânio. Isso porque se detectou, numa construção de um prédio em Londres, que o reflexo do sol na estrutura metálica brilhante derretia partes de carros estacionados próximos itens expostos em vitrinas vizinhas.
Para dar um ar futurista, o estádio terá formas diferentes em cada um dos quatro lados e ganhará um acesso principal. Hoje não há distinção em seus 57 portões. A fachada principal ganhará um telão gigante de led.
A menina dos olhos do novo Bernabéu, por incrível que pareça, não estará no teto retrátil, que fechará ou abrirá em 15 minutos e, quando usado, permitirá passar iluminação em 76 metros de sua extensão, um recorde mundial, conforme os arquitetos. Logo abaixo dele, um grande placar circundará o estádio, remetendo a uma ideia de ginásio da NBA. Porém, a grande novidade está mesmo no gramado retrátil e na solução usada para o período em que estiver guardado.
Os arquitetos criaram uma gaveta de 30 metros de profundidade, embaixo do campo. É como se dobrassem o gramado e o colocassem empilhado nela. Para isso, foram usados trilhos semelhantes aos do AVE, o trem espanhol de alta velocidade. Quer mais? Enquanto estiver guardado nessa gaveta gigante, o gramado terá um sistema de irrigação, iluminação de led, tratamento com raios ultravioleta e ventilação mecânica.
O plano do Real Madrid é usar a estrutura de arquibancada para fazer do estádio um grande teatro, capaz de receber um megashow ou um concerto com o mesmo conforto. Mais do que isso, o novo gramado retrátil permitirá fazer a final four do Eurobasket na quinta-feira, um jogo do Espanhol no domingo e acolher uma partida da NFL na terça. Sem castigar o campo e só trocando o piso.
Outra possibilidade é de receber dois eventos esportivos ao mesmo tempo. Pode-se fazer um jogo de Rafael Nadal de um lado e, separados por uma gigante cortina, disputar uma partida de vôlei na outra metade.
O plano de Florentino Pérez é de que o estádio se pague em pouco tempo. O museu e o tour do estádio serão uma das fontes de receitas para isso. Inclusive, a reforma prevê a ampliação do museu. Até o começo da pandemia, ele recebia 2 milhões de pessoas por ano. O ingresso custa 20 euros. Logo, o clube via entrar no caixa 80 milhões de euros só com o pacote tour/museu. O equivalente ao orçamento do Inter ou do Grêmio, para se ter ideia.
A projeção é de que, com o novo estádio, essa cifra possa até dobrar. Florentin, o homem que criou o Real galáctico no final dos anos 1990, prepara, agora, o Real do Século 21. Ele alerta que sobreviverão nessa indústria gigante que virou o futebol europeu apenas os clubes cujos donos sejam um país (PSG e City, por exemplo) ou um bilionário.