Para quem olha as imagens das novas instalações do CT de Eldorado do Sul, há uma mudança radical do Grêmio na formação de atletas. E não está errado ao concluir isso. Só que a mudança vai além da estrutura física. Ela é muito mais profunda e mexe com as raízes das categorias de base do clube. Pode-se dizer que há uma revolução em curso naqueles prédios estalando de novos na margem oposta do Rio Guaíba.
Um projeto desenvolvido por um grupo de estudo formado por profissionais do clube está mudando a forma de desenvolver um jogador de futebol. Vou explicar.Há cerca de um mês, estive entre os jornalistas convidados a conhecer o novo CT de Eldorado do Sul. Você deve ter lido aqui na coluna e visto as imagens.
São dois prédios, um com acomodação para 120 garotos, sala de estudos, área de convivência, restaurante, lavanderia e até espaço para conectar o videogame e jogar online, e outro com departamento médico, academia, rouparia e vestiários. Além disso, um dos oito campos ganhou iluminação de estádio e capacidade para abrigar jogos pelas competições da CBF com transmissão. Há funcionalidade e conforto no novo CT.
Só que os responsáveis pelas categorias de base aproveitaram esse momento de mudança para desenvolver um novo conceito na formação dos jogadores em que se troca a categorização por idade por outra conforme o nível técnico. Saem os “sub” e entram quatro níveis: inserção, desenvolvimento, preparação e promoção.
Antes de destrinchar cada uma dessas etapas, é bom frisar: o torcedor ainda verá o sub-15, o sub-17 e o sub-20 jogando pelo Grêmio. Mas isso será apenas para atender às competições. O seja, veremos guri de 16 anos no sub-20, por exemplo.
Bom, vamos aos quatro níveis: a inserção será destinada aos jogadores que estão chegando ao clube; o desenvolvimento acolherá os garotos que ainda precisam evoluir em aspectos físico, técnico, tático e psicológico; preparação é o último estágio antes de finalizar o processo, é quando o garoto começa a ser capacitado para aguentar 90 minutos de alta intensidade e combate; promoção é a última categoria, está destinada ao jogador que está pronto e numa prateleira para atender ao clube, primeiro, evidentemente, e ao mercado.
Avaliações
É a promoção que mandará atletas para o time de transição ou, em casos específicos, diretamente para o time principal. Caso eles não sejam absorvidos internamente, estarão prontos para dar seguimento à carreira em outros clubes.
A ideia do Grêmio, com essa nova classificação, é buscar, cada vez mais, individualizar a formação do jogador. Por isso, ele será avaliado a cada trimestre, numa espécie de “conselho de classe”, como me definiu o coordenador geral da base, Francesco Barletta. Os profissionais das diversas áreas da comissão técnica se reunirão e avaliarão a evolução tática, técnica, física e psicológica do atleta. Ele recebe uma nota e, dependendo, pode avançar ou recuar.
— Existe uma pontuação específica de cada área, que é feita. Essa avaliação é feita através do CIA (Controle Individual do Atleta). Todos os setores preenchem. Daí sai o resultado que pautará a nossa discussão — explica Barletta.
O projeto foi desenvolvido dentro da base do Grêmio, a partir da percepção de que era necessário tornar cada vez mais individual a formação do atleta. A partir daí, iniciaram-se as discussões para elaboração de um modelo específico do clube. A quarentena forçada pela pandemia e que paralisou as atividades criou o cenário para que o projeto avançasse. Barletta formou um grupo de trabalho com os coordenadores técnico, Vágner Gonçalves, administrativo, Paulo Farenzena, de preparação física, Osvaldo Siqueira, médico, Ivan Zanella, e de captação de jogadores, Paulo Araujo.
A partir da retomada das atividades da base, na reta final de 2020, iniciaram-se alguns exercícios para aplicar o projeto. O time que disputa competições sub-17 já está inserido nessa nova categorização. A partir de 2022, toda a base estará trabalhando neste novo modelo.
— Temos de nos adaptar ao que o jovem de hoje exige, eles são muito dinâmicos. Por isso, precisamos criar processos que também sejam dinâmicos, para que ele se interesse ainda mais. Os meninos gostam muito de se comparar, de competir entre eles. Sem contar que o mercado do futebol, hoje, está muito acelerado — explica Barletta, numa prova de que, mais do que formar, é fundamental ler o que o mundo está pedindo.