Não foi curta a trajetória de Ferreirinha para virar Ferreira. Aliás, essa é uma história que renderia até um bom roteiro de filme ou documentário. Mostra bem o quanto o trabalho e, principalmente, a confiança podem mudar tudo.
Há pouco mais de dois anos, Ferreira estava com um pé fora do Grêmio. Havia sido emprestado ao Aimoré, para a disputa do Gauchão, e cumpriria em mais um empréstimo os seis meses restantes de contrato. Só que o guri padecia com uma facite plantar e, como não conseguia engatar sequência de jogos, voltou ao Grêmio. Foi quando entrou em cena o empresário Pablo Bueno, que recém havia assumido a gestão de sua carreira. Pablo pediu insistiu com Klauss Câmara, à época executivo do clube, para que ele pudesse cumprir os meses finais de contrato na transição.
Klauss resistiu, mas aceitou o pedido. Nesse meio tempo, Pablo bancou um tratamento com células tronco que curou Ferreirinha da facite. Também criou um ambiente de tranquilidade ao guri, auxiliando sua família, no Mato Grosso, e criou uma estrutura que complementava todo o trabalho de excelência que o Grêmio fazia. Um exemplo: uma nutricionista passou a cuidar da alimentação do guri nas refeições fora do clube. Por um período, também houve complemento físico.
Ferreirinha, assim, logo ficou à disposição de Thiago Gomes na transição. A mão do técnico também foi decisiva. Gomes admirava a verticalidade daquele atacante franzino e apostou nele. Também insistiu, assim como Pablo, para que driblasse para a frente e perto do gol. Houve um jogo que Pablo define como um marco na vida de Ferreirinha. Foi pelo Brasileirão sub-23, contra o Figueirense, no Orlando Scarpelli. Ferreirinha entrou no intervalo, no lugar de Leo Chú. Demorou três minutos para fazer 1 a 0. Fez uma festa. Tirou a camisa na comemoração e levou amarelo. Era a estreia, e o Grêmio perdeu. Mas Ferreirinha fez outros 10 gols, e sua vida mudou.
O sucesso no transição valeu-lhe renovação por 18 meses, mas sem aumento salarial. Ferreira fechou 2019 no time de cima. Mas aí veio o imbróglio da renovação. Que só se resolveu em outubro. Ele voltou fazendo gol contra o Palmeiras e não parou mais. Está mais forte e, aos 23 anos, virou referência no Grêmio.
O salário de seis dígitos chegou graças às metas atingidas no campo e previstas no contrato. O sucesso e o valor acessível da multa, fazem dele uma potencial venda gremista na janela do meio do ano. A não ser que o clube corra e prolongue o vínculo atual, que vai até dezembro de 2023. Neste momento, ele pode sair por 8 milhões de euros, se for para o Shakhtar, onde Pablo tem boa relação. Para Itália e Espanha, sobe para 12 milhões de euros e, para a Premier League, bate em 15 milhões de euros. Posso dizer: é troco pelo que ele está jogando.