Os gremistas mais atentos se lembrarão do meia Isael. Lançado por Celso Roth no verão de 2009, ele desembarcou no time principal do Grêmio com fama de meia ofensivo, habilidoso e com bom arremate de fora da área. Isael subiu na mesma fornada que tinha zagueiro Héverton, hoje no Brasil-Pel, Roberson e um certo Douglas Costa.
Mais de uma década e uma volta ao mundo depois, eis que Isael reapareceu aqui na minha TV contra o Barcelona, na estreia dos catalães na Liga dos Campeões. O paulistano, hoje com 32 anos, é o principal jogador do Ferencváros, o tradicional clube húngaro que, nos anos 1950, rivalizava com o Honved, de Puskás e Bozsik.
Enfrentou Messi na terça-feira (20), com direito a bola na trave no Camp Nou, e terá Cristiano Ronaldo ali na frente, já que a Juve também está no grupo.
A volta à Liga dos Campeões ganhou contornos de apoteose na deslumbrante Budapeste. Desde 1995, o Ferencvaros estava fora da elite europeia. Chegou à fase de grupos depois de cumprir uma maratona de jogos eliminatórios. Deixou pelo caminho o Djugarden, da Suécia, o Celtic, da Escócia, o Dinamo Zagreb, da Croácia, e, na última etapa, venceu o mata-mata contra o Molde, da Noruega.
Para Isael, pisar no Camp Nou é a consagração de uma vitória. Um troféu para quem, logo depois de deixar o Grêmio, pensou em vender tudo o que tinha para investir em um bar e fazer do futebol um bico de fim de semana na várzea paulistana. Por sorte, sua mulher o impediu.
No Grêmio, de fato, Isael teve poucas chances. Ele só chegou ao profissional, aliás, porque seu caminho cruzou com o de Celso Roth. Fora dos planos no sub-20 e em último ano de contrato, havia ficado de fora de uma excursão à Itália. Roth precisou de alguns guris para completar o treino e, com não havia quase ninguém disponível, chamaram Isael. O técnico gostou da atuação dele no treino e solicitou que renovassem seu contrato. Isael ganhou três anos mais. Só que Roth saiu meses depois de promovê-lo, e ele voltou ao ostracismo.
Quando veio do Al Rayyan, Autuori colocou o olho no time B. Numa tacada só, promoveu Mário Fernandes, Bruno Collaço, deu chance ao volante Fernando e resgatou Isael. Sua chance veio contra o Sport, na Ilha do Retiro. Ele foi tão bem que os pernambucanos pediram seu empréstimo. Como queria jogar, o meia topou. Mas teve poucas chances.
Em 2010, foi cedido a um clube turco. Ficou seis meses, não recebe e voltou. Ficou três meses treinando em separado no Olímpico. Foi nesse período em quem pensou em trocar a bola por um bar.
A partir daí, passou a rodar: Coritiba, Fortaleza e São Caetano, quando a carreira engrenou. Era 2012, e veio a oferta do Nacional, da Ilha da Madeira. Foi tão bem que, 14 jogos depois, o Krasnodar o comprou. Em 2015, topou, contrariando a família, desafio de jogar no Cazaquistão. Foram cinco temporadas no Kairat. de onde saiu ídolo e amigo do presidente do clube, que, no primeiro dia, disse ser contra sua contratação, por achar os brasileiros "preguiçosos".
A chegada ao Ferencvaros aconteceu em 2019. No primeiro ano, veio o título nacional. No segundo, o bi e a vaga histórica na Liga. Nada mal para quem queria abrir um bar.