O baiano Samir Abdala, 32, mestre em gestão esportiva pela Université du Droit et de la Santé, de Lille, e o paulista Lucas Spolidoro, especialista em marketing esportivo, se debruçaram sobre a milhagem de cada clube da Série A.
Trouxeram para a pauta um tema que precisa ser levado muito em conta por torcedores e analistas na hora de se avaliar o rendimento de um time e o trabalho do seu técnico. Segundo o estudo, os 20 clubes da Série A percorrerão no Brasileirão o equivalente a 21 voltas ao mundo em 148 dias. Ou melhor: andarão o mesmo que 25 viagens à lua.
Como era esperado, o trio do Nordeste é quem mais passará tempo dentro do avião. Logo a seguir, estão Grêmio e Inter, cujas viagens somarão cerca de 200 horas, isso sem contar Libertadores e Copa do Brasil. Um tempo excessivo, que obriga a trocar sessões de treinos por aviões, aeroportos e hotéis. Por telefone, Samir conversou com a coluna.
Qual o efeito dessa carga de viagens no rendimento dos atletas?
Não quer dizer que as viagens são as causas da derrota. Mas, quanto mais uma equipe treina, mais vai jogar melhor e, consequentemente, mais estará preparado. O fato de ele estar em trânsito, longe da família, sem descansar em seu lar, afeta o psicológico. As pessoas acham que o jogador é uma máquina. Em alto rendimento, qualquer detalhe dá vantagem.
O quanto impacta na qualidade do jogo essa necessidade de longas viagens em um calendário de quarta e domingo?
Aqui se olha apenas o atleta no jogo, sem treinar. Mas é no treino em que ele aprende. Aqui, já temos uma pré-temporada curta, vai-se direto para o Estadual. Na Europa, os grandes clubes até têm número de jogos parecidos com alguns dos nossos principais times, mas contam com uma preparação mais tranquila no começo da temporada e distâncias menores. O nosso calendário é apertado demais, com o Brasileirão todo em menos em cerca de sete meses. O segundo semestre é muito espremido, é jogo atrás de jogo. Conversando com preparadores físicos, eles defendem que o jogo será impactado, sim. Não a curto prazo, mas na reta final da temporada. E não apenas no físico, mas no mental também. Se na semana você perde um dia de treino pelo acúmulo de jogos, ao final de uma temporada com 30 semanas, são 30 sessões a menos. Taticamente, você perde, porque trabalha menos no campo. Dependerá de o treinador ser mais capacitado para minorar isso. Não é causa direta de derrota, mas aumenta chance de ele ter problemas.
No estudo, vocês usaram o tempo de viagem em voo fretado e sem conexões. Ou seja, o tempo gasto pode ser ainda maior. Qual seria uma saída para os clubes?
Usamos com base o tempo de voo direto para não termos divergências. Alguns clubes, aliás, já fazem isso, fretando aviões. O Flamengo, no ano passado, fez isso a partir da chegada do Jorge Jesus. Os clubes mais saneados, como Palmeiras, Flamengo e até o Grêmio, vão pensar, a médio prazo, em ter aviões exclusivos. Ninguém pensava nisso antes do Jesus chegar.