Tem um preço alto jogar um campeonato do tamanho do Brasileirão, que exige 38 rodadas e, muitas vezes, singrar um país do tamanho de um continente. Isso no velho normal. Imagina no meio de uma pandemia que já nos tirou dois Beira-Rio lotados. Ou quase duas Arenas, se preferir assim.
Estamos em luta franca e direta contra o coronavírus e, mesmo assim, iniciamos a nossa maior e mais importante competição. Vamos combinar, com tantas viagens e tanta gente envolvida, mas sem qualquer chance de criar uma bolha sanitária, era preciso um protocolo que nos levasse perto da segurança máxima. O que se vê, em apenas duas rodadas, é que a segurança está mais perto do mínimo.
A Europa voltou ao futebol, você pode até dizer. Mas é preciso levar em conta alguns aspectos. Primeiro, as grandes ligas retomaram, na média, 70 dias depois de ter superado o pico da pandemia. Outra, elas tinham 10, 12 rodadas pela frente e uma logística que poderia ser desdobrada de ônibus, trem e algumas viagens de avião. Ou seja, um cenário totalmente distinto do nosso.
O protocolo da CBF, apresentado aos clubes, é bom que se diga, mostrou-se falho. Tanto é que, desde a noite de domingo, depois da patuscada antes de Goiás x São Paulo, ele recebe ajustes. Parece mentira, mas os clubes descobrem com a bola rolando que há particularidades. Como essa de quatro jogadores do Atlético-GO, que foram liberados pela CBF para jogar contra o Flamengo depois de cumprirem quarentena de 10 dias a partir do resultado positivo do exame de covid-19.
No recurso apresentado, o clube goiano afirmou que o quarteto estava na fase final de contaminação e não tinha mais o "potencial de transmissão da doença". Não há erro nisso, o CDC, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA, teve essa norma reconhecida pela OMS.
O problema é que tudo isso precisava ser bem explicado e exposto. Não tem cabimento causar surpresa um ponto tão importante do protocolo. É o preço da pressa, de começar o campeonato sem olhar para o ambiente que o cerca. Estamos no meio de uma pandemia. Parece óbvio, mas a pressa, por vezes, nos faz ignorar o óbvio. Ainda teremos algumas surpresas no caminho e mais ajustes no protocolo do Brasileirão. E, tomara, fiquemos só nisso.