Em novembro, o lance que mudou a vida de Régis Júnior completa 20 anos. E ainda hoje ele espera por justiça. O soco na cabeça, pelas costas, que levou de Darzone em um jogo do Caxias contra o Santo Ângelo, pela Copa Mais Fácil, tirou-o para sempre do futebol. Na época com 21 anos, Régis negociava para jogar no Japão. Ainda hoje, ele perde a fala e remói em silêncio ao falar sobre o rumo que sua vida tomou. Foi assim na tarde de quinta-feira (20), quando atendeu a coluna ao telefone. No meio da conversa, quando o assunto enveredou para o fim precoce da carreira, a voz sumiu:
— Eu estava para ir jogar no Japão. Iríamos eu e um colega do Caxias, que era de Cuiabá. Ele foi e hoje é empresário, está bem para caramba.
Nesse momento, veio o silêncio cortante na conversa. Só interrompido por uma frase que resume o sentimento de Régis:
— A justiça deve ser feita.
O ex-zagueiro nunca mais teve notícia de Darzone. Por algumas vezes, se cruzaram nesse período. O processo movido por Régis na Justiça teve como desfecho a ordem para indenização pelo Santo Ângelo, o clube de Darzone. Em valores corrigidos, conforme Régis, teria direito a R$ 1,4 milhão. O Santo Ângelo alegou falta de receitas para cumprir a ordem. Por duas vezes, tentou leiloar seu estádio, sem sucesso.
— Ficou por isso mesmo, uma sacanagem. Eles (Santo Ângelo) devem ter uma verba mensal (para me pagar). Que deem R$ 50 mil por mês, pelo menos estaria recebendo, e eles, fazendo um pouco de justiça. É brabo, cara — desabafa Régis.
O ex-zagueiro seguiu em frente. Formou-se em Educação Física, se casou há seis anos e espera que, neste ano, como presente de 41 anos, receba a notícia da mulher, Cíntia, de que o primeiro filho está a caminho. O pior já passou, com o coma, a dor da família e os dois anos de fisioterapia diária. Atualmente, Régis administra com a mulher uma papelaria no bairro Parque dos Anjos, em Gravataí, e trabalha na secretaria de Esportes da prefeitura. A pancada, porém, deixou sequelas. A mais séria os ataques epiléticos que passou a sofrer a partir de 2008. Os médico haviam alertado do risco. Hoje, precisa de medicação. Por vezes, se esqueceu dela e teve crises em locais públicos.
O ex-zagueiro segue atento ao futebol. Costuma assistir com o pai, Régis, o parceiro de toda a vida. Também se arrisca em peladas, embora a perna direita teime em traí-lo. Esse lado do corpo foi afetado pela pancada na cabeça.
— Me esforço, mas só me canso. Perdi muito da coordenação motora. Parece que minha perna direita está sempre puxando — conta.
Aos 40 anos, Régis mostra a bravura dos tempos de zagueiro para seguir em frente. A justiça ainda não bateu em sua porta. Por isso, por vezes, ele ainda volta àquela tarde de novembro de 1999. E se pergunta:
— Por que ele fez aquilo? Por que não quebrou a minha perna, então? Ser jogador era meu sonho.