Argentino de Santa Fé, boliviano como jogador e cidadão latino-americano como treinador. Gustavo Domingos Quinteros vive na Universidad Católica a sua primeira experiência como técnico no Chile.
Quinteros é um sujeito afeito aos desafios. Por isso, topou sair do argentino Talleres, de Córdoba, em 1988, aos 23 anos, para jogar no Universitário Sucre. Chegou e entrou no time como meia ofensivo. Fez sucesso, subiu para La Paz e defendeu o The Strongest. Tanto sucesso que aceitou o convite para virar zagueiro da seleção boliviana.
Estava no time que ganhou do Brasil na nossa primeira derrota na história das Eliminatórias, e depois levou a Bolívia à Copa dos Estados Unidos. Aos 54 anos, Quinteros virou o que em espanhol se chama de "trotamundo". Foi tricampeão como técnico na Bolívia e comandou a seleção. Acabou demitido e rumou para o Equador. Conquistou o bi nacional com o Emelec, de Miller Bolaños, e assumiu a seleção equatoriana.
O começo nas Eliminatórias para a Copa da Rússia foi espetacular, com cinco vitórias seguidas. Veio o escândalo da Fifa, em que o então presidente da confederação do país, Luís Chiriboga, estava envolvido, e tudo desandou. Quinteros saiu antes do final da disputa e exilou-se dois anos no mundo árabe. Comandou o saudita Al-Nassr e o Al-Wasl, dos Emirados. No começo deste ano, voltou à América do Sul para comandar a La UC.
Por WhatsApp, o técnico conversou com a coluna e tratou sobre a decisão de quarta-feira (8). Para os gremistas, uma boa notícia: a meta estabelecida a ele pelos chilenos é a conquista do bicampeonato nacional. O restante será lucro. Confira a nossa conversa.
Como o senhor pensa a estratégia para a partida contra o Grêmio?
A estratégia será a mesma, não mudamos demais quando jogamos como local ou como visitante. Trata-se de um estado de ânimo, dependerá de como os jogadores estarão neste dia. Se levantam bem, estão concentrados e atentos, podemos jogar muito bem e sonhar em arrancar um bom resultado em Porto Alegre.
Como imagina que será o ambiente na Arena do Grêmio na quarta-feira?
Conheço bastante o ambiente de um jogo no Brasil como visitante. Será uma partida em um estádio muito importante. O Grêmio terá apoio maciço da sua torcida. O que nos fará nos sentirmos muito como visitantes. Trataremos de estar concentrados e pensando só na partida, em jogar taticamente ordenados para ter chances de avançar à próxima fase.
O Grêmio sofreu mudanças depois da derrota em Santiago. Como vê o time atual?
Não vi o Grêmio depois da partida em que o vencemos aqui em Santiago. Estamos muito envolvidos com o campeonato local, no qual somos líderes, quatro pontos à frente do segundo lugar. O objetivo principal do clube é tratar de ganhar o bi nacional. Claro, vamos tentar, na partida contra o Grêmio, a última chance de passar de fase.
Em relação ao Grêmio da semifinal de 2018, o time atual é do mesmo nível técnico?
Não vejo assim (do mesmo nível). Este Grêmio é distinto em relação àquele. Claro, se foram alguns jogadores, houve trocas, estão ingressando novos nomes. Mas o Grêmio é um time que sempre tenta jogar bem o futebol, tem jogadores de muita categoria e hierarquia, que, em partidas importantes, se sobressaem. Assim, para nós, o jogo em Porto Alegre será muito complicado e difícil.
Trataremos de jogar em nosso melhor nível em Porto Alegre
GUSTAVO QUINTEROS
Técnico da Universidad Católica
Seu time teve bom começo na Libertadores, mas caiu de rendimento, perdeu para Libertad e empatou com o Rosario. O que houve?
Nessas duas últimas partidas (Libertad e Rosario Central), não jogamos em nosso melhor nível. Contra o Libertad, em Santiago, o primeiro tempo foi bom. Mas cometemos dois erros, nos quais eles puderam fazer dois gols em bola cruzada para área. Eles são fortes neste tipo de jogada. Lamentavelmente, não pudemos ganhar. Porém, trataremos de jogar em nosso melhor nível em Porto Alegre. Vamos deixar tudo no campo para passar de fase.
A Universidad Católica vem de cinco títulos em três anos. Esse aspecto anímico ajuda numa decisão como a de quarta?
A Universidad Católica é uma instituição muito organizada, nunca ultrapassa seu orçamento anual. É um clube no qual os objetivos principais são sempre os títulos nacionais. Talvez, no futuro, a instituição possa investir mais dinheiro, fortalecer o time e ter a possibilidade de competir nos torneios internacionais, tanto na Libertadores quanto na Sul-Americana, para ir mais longe. Esperamos que, em 2020, possa investir nesse sentido, de se fortalecer para brigar de forma mais parelha com brasileiros, argentinos e colombianos, que gastam dinheiro para avançar e chegar mais longe nas Copas.
Em um plano geral, como o senhor avalia o futebol chileno e a seleção, que virá defender o bi da Copa América no Brasil?
A seleção do Chile tem muitos bons jogadores, nomes de grande nível no futebol mundial. Eles já demonstraram em Copas Américas anteriores que, quando todos os principais nomes do país se juntam pela seleção e estão em bom momento futebolístico, podem chegar às finais. Esta é uma seleção forte, embora tenha ficado de fora do último Mundial.
Voltando a quarta-feira, será o jogo do ano para Católica?
Esta partida é importantíssima para nós, pode nos levar à outra fase da Libertadores. Mas estamos conscientes de que brigaremos com um clube campeão da América em 2017, dono de orçamento muitíssimo maior do que o nosso e que costuma ir longe nas Copas. Será difícil para nós, mas nada é impossível no futebol. O jogo em Porto Alegre pode ser um dos dois ou três mais importantes do ano para a Católica. Cheguei há quatro meses, e as outras duas grandes partidas foram os clássicos contra Colo-Colo e Universidad de Chile. Vencemos ambos. O confronto com o Grêmio pode ser, sim, o terceiro jogo mais importante do ano.
Neste sábado, a Católica enfrenta o O’Higgins, pelo campeonato nacional. A ideia é usar reservas?
Não, vamos usar time misto.