Escondido na Série B, onde patina há três temporadas, o Goiás respira na Copa do Brasil os ares de clube da elite com os quais se acostumou até o início desta década. Para voltar aos tempos de glória, em que chegou a ser semifinalista do Brasileirão, ao cair para o Grêmio em 1996, e tinha seus jogadores cobiçados pelos grandes clubes do país.
A realidade hoje é bem diferente. Há bons valores, como o volante Madison e o atacante Carlos Eduardo, mas o time está longe de inspirar. Tanto é que, na Série B, começou com duas derrotas (para CSA, em Alagoas, e Figueirense, em casa).
A direção agiu rápido e atendeu ao pedido de reforços feito Hélio dos Anjos, esse um ícone do clube. Nesta segunda-feira, Renato Cajá, 33 anos, foi anunciado. Como se percebe, são outros os tempos no Goiás. A seguir, conheça o rival gremista em sete toques.
Série B tripla
No cenário estadual, o Goiás mantém seu predomínio. No início de abril, comemorou o tetra ao vencer na decisão o pequeno Aparecidense. Fora do Cerrado, no entanto, o clube patina e vai para a sua terceira temporada seguida na Série B. Nesta década, sofre com a alternância entre a elite e a Segunda Divisão.
Em 2010, caiu depois de uma década na elite havia subido em 1999, com Fernandão, aos 21 anos, como destaque. Saiu da Série B em 2012, com Enderson Moreira, Sasha e Walter. Mas caiu outra vez em 2015 e, além de não subir, brigou nos últimos dois contra o rebaixamento à Série C.
— É a terceira temporada na Série B. Para um clube de tradição e com grana, é muito. O Goiás sempre foi o goiano de Serie A e começa a descer desse pedestal. É a primeira vez que fica três anos seguidos fora elite — analisa Paula Parreira, editora de Esportes do jornal O Popular, de Goiânia.
O todo-poderoso
O Goiás é um clube jovem. Completou, no último dia 6, 75 anos. Nos últimos 55 anos, teve como homem-forte Hailé Selassié de Goiás Pinheiro. Empresário, 81 anos, dono de empresa de ônibus em Goiânia e de fazenda no interior do Estado, Hailé começou no clube em 1963. Foi levado por um primo à reunião do Conselho e saiu de lá presidente.
Nesse período, só esteve de fora do Goiás entre 1971 e 1981. Voltou e assumiu a presidência do Conselho Deliberativo, onde está há 37 anos de forma ininterrupta. Só assume o clube quem é seu aliado. Aqueles que romperam no meio do caminho, acabaram renunciando. Foi o caso de Syd de Oliveira, em 2010.
Tudo passa, no entanto, pelo crivo de Hailé Selassié de Goiás Pinheiro. O nome, aliás, foi uma homenagem do pai ao imperador etíope — ele só acrescentou o "de Goiás" para diferenciar o filho do homônimo africano. E, não à toa, batiza o estádio conhecido como Serrinha, casa do clube para 15 mil pessoas em um bairro nobre de Goiânia.
Aposta na base
O Goiás sempre foi revelador de talentos. Túlio Maravilha surgiu lá no final dos anos 1980. Brilhou como goleador do Brasileirão de 1989 e tomou o caminho da Suíça antes de voltar para a afirmação no Botafogo.
Fernandão foi outro forjado na Serrinha. Antes deles, houve Luvanor, um camisa 10 que mudou-se para a Itália quando o mercado europeu se abriu para os brasileiros. A lista segue com o volante Josué e o atacante Araújo, que atuou entre 1997 e 2003 e depois entre 2013 e 2014 — ainda é o maior artilheiro da história do clube, com 145 gols em 291 jogos.
A tradição do clube se mantém. A estrutura foi pensada para revelar. O CT conta com a Casa do Atleta, para 32 garotos, com piscina, área de estudo e infraestrutura de hotel cinco estrelas.
O time atual conta com quatro titulares da base: o zagueiro David Duarte, o volante Madison, 19 anos, atacante Carlos Eduardo e o volante Léo Sena, garimpado na Copa SP 2015, no Rio Claro. Há 15 dias, o Goiás apresentou 12 garotos que foram observados na última Copinha.
Volante haitiano
O trabalho de observação de talentos na Copa SP trouxe para o Goiás dois haitianos. O meia Jackô Metellus e o atacante Waby Angelus foram descobertos na estreia do time em 2016 contra o Panteras Negras, clube criado pela ONG Viva Rio em 2010 e que auxilia refugiados haitianos.
Os dois chegaram em meados de 2017, para o time sub-19. Jacko Mettellus teve boa participação na última Copinha e participou, inclusive, do jogo em que o Goiás eliminou o Grêmio na terceira fase. Nesta temporada, foi promovido por Hélio dos Anjos ao grupo principal.
Carlos Eduardo, a fera
Aos 21 anos, o atacante Carlos Eduardo é grande joia do Goiás neste momento. Atacante de lado, veloz e com bom arremate, virou alvo de cobiça dos grandes clubes. No início deste ano, o São Paulo enviou Raí até Goiânia para apresentar um projeto ao garoto.
O Flamengo e o Santos fizeram consultas. O Anderlecht, da Bélgica, o colocou no radar. Tanto assédio fez o Goiás agir. O contrato foi prorrogado até o final de 2020, e a multa rescisória, estipulada em 10 milhões de euros. O clube determinou que só pelo valor da multa ele deixará Goiânia.
Esta temporada será a quarta de Carlos Eduardo como profissional. Em 2015, ano do rebaixamento, ele surgiu como alternativa em um ataque formado por Bruno Henrique, hoje no Santos, e Erik, vendido ao Palmeiras, mas com 40% dos direitos ainda presos ao clube goiano.
Hélio dos Anjos
Em fevereiro, Hélio dos Anjos completou 350 jogos como técnico do Goiás. Esta é a sexta vez que trabalha no clube. Chegou em setembro, quando o rebaixamento à Série C parecia iminente. O presidente havia renunciado, e a torcida, invadido o CT e agredido jogadores.
Livrou o Goiás do rebaixamento, conquistou o tetra estadual e a vaga nas oitavas de final da Copa do Brasil — o que engordou o caixa em R$ 4,3 milhões. Aos 60 anos, Hélio dos Anjos parece moldado para trabalhar no clube. Sua primeira passagem foi em 1995.
Voltou em 1999, quando subiu da Série B com Fernandão, e ficou até 2001. Retornou no ano seguinte, depois em 2008 e em 2015. São cinco títulos goianos, a Série B em 1999 e a Copa Centro-Oeste em 2000.
O time de conhecidos
O Goiás conta com algumas figuras conhecidas dos gaúchos. O capitão do time é o zagueiro Eduardo Brock, ex-Brasil-Pel. Brock, aliás, está marcado pela torcida depois do gol do Figueirense no sábado, em que entregou a bola para Jorge Henrique em cena de filme pastelão.
O lateral-esquerdo Breno está emprestado pelo Grêmio e vive bom momento em Goiânia. O centroavante Lucão fez um bom Gauchão pelo Cruzeiro em 2017 e será o dono da vaga de Júnior Viçosa, lesionado.
Nesta segunda-feira, Hélio dos Anjos ganhou outro reforço conhecido por aqui, o meia Renato Cajá, 33 anos. No entanto, como está sem atuar desde a queda da Ponte à Série B, não estreará contra o Grêmio.
O meia Giovanni, campeão mundial com o Corinthians em 2012, é o organizador da equipe. Hélio não contará com o volante Léo Sena, também lesionado. O provável time: Marcelo Rangel; Caíque Sá, David Duarte, Eduardo Brock e Breno; Madison, Pedro Bambu e Giovanni; Carlos Eduardo, Lucão e Michael.