O Grêmio estima que cerca de 2,5 mil torcedores estejam apoiando o clube na busca do Bi do Mundial de Clubes em Abu Dhabi. Para essa legião azul, o cônsul do clube em Dubai manda um recado: comemorem, mas com moderação. Os exageros dos trópicos podem assustar a forma ordeira e pacífica em que vivem os árabes nos Emirados.
Por telefone, conversei com Ricardo Ferla, cirurgião plástico radicado em Dubai há oito anos. Confira nosso papo.
Como estão os preparativos para receber o Grêmio?
A partir de hoje (segunda-feira), os diretores começaram a entrar em contato, o Thiago Floriano, do Departamento do Torcedor Gremista, e o Marco Bobsin, assessor do presidente. Com relação à torcida, os Emirados têm 9 mil brasileiros aqui. Há mobilização muito grande, me adicionaram em um grupo de WhatApp de cônsules do Grêmio. Sei que vem gente da Austrália, da Flórida. Extraoficialmente, a informação que recebi é de que serão 2,5 mil gremista apoiando o time no Mundial
Há alguma atmosfera diferente por causa do Mundial?
Pouco se fala, não tem uma grande repercussão. A princípio, para eles, ainda não existe Grêmio, assim como não existiria o River ou Lanús. Só existe Real Madrid. Em outdoors pela cidade, em propagandas nos ônibus, só se vê imagens de jogadores do Real. E isso é bom para o Grêmio, é bom que não saibam da existência de um outro adversário.
Nem mesmo nos meios de comunicação se fala no Mundial?
Sou médico, algumas pessoas conversam comigo, comentam sobre a vinda de um clube brasileiro. Nos jornais, recém começa a sair algo relacionado ao Mundial. Nas rádios, ouvi algo também, obviamente, sobre o Real. Mas falta uma semana ainda para começar a participação do Grêmio. Acho que aumentará nos próximos dias.
Será possível conquistar a torcida dos árabes?
Em todos os países árabes, as pessoas são enlouquecidas pelos times da Europa, há uma rivalidade aqui, entre Barcelona e Real. Em Dubai, onde moro, eles se dividem entre Manchester United e Real. Certamente, o estádio vai estar lotado pela presença dos espanhóis.
Que conselhos você daria para a torcida gremista que vai para o Mundial?
Os Emirados Árabes são fechados ao ocidente e seus costumes. Mas as pessoas aqui não estão acostumados a barulho, bagunça, gente na rua. Em um dia de futebol, você não encontra torcedores na rua. Os gremistas precisam ter cuidado com comportamento da torcida, evitar barulho. Se estiverem buzinando na rua, o policial vai abordar para saber por que estão buzinando. Aqui, não pode parar todo mundo na frente de um bar e ficar vendo o jogo. Quem quiser confraternizar, precisará entrar em um restaurante ou pub, se sentar e comemorar de forma ordeira.
Que outros conselhos você daria?
Não se pode ir ao estádio sem camisa, não pode beber em público. Os árabes em Dubai são meio ocidentalizados, muitos têm passaporte britânicos ou estudaram na Europa. Ainda assim não estão acostumados com certos hábitos. Moro há oito anos aqui e tenho grandes amigos, que me conhecem há muito tempo. Com eles, posso ser mais efusivo, fazer uma brincadeira, dar um abraço. Eles estão acostumados a manter uma distância regulamentar. A torcida terá de ter cuidado. Aqui, ninguém poderá ir pro Obelisco comemorar o título (risos).
Não haverá um lugar determinado em que se possa fazer uma comemoração mais entusiasmada?
Se tiver um local preparado pela Fifa, tudo bem. Não temos essa informação ainda. Se o Grêmio for campeão, o jogo terminará perto da meia-noite, quase no domingo, que é o primeiro dia útil da semana dos árabes. Eles estarão dormindo, porque às 4h30min é o horário da primeira reza do dia.
Que último conselho você daria para a torcida gremista?
Quem puder vir, deve vir. O país é excelente, civilizado, tudo funciona. Mas é preciso entender que eles têm suas regras próprias e devem ser respeitadas. Se pudesse resumir em uma palavra a forma como se vive aqui, diria que seria ordeira.
A Geral poderá usar seus trapos e bumbos?
Não sei se a Geral poderá colocar faixas, levar bumbos. A maneira de torcer por futebol aqui é diferente, embora exista rivalidade entre os times. Eles costumam levar tambores ao estádio, mas não é um bumbo. Os torcedores locais batem muitas palmas, têm uma forma ingênua de torcer.
Como está o clima aí agora?
É quase meia-noite. Está muito agradável, 22ºC, sopra um ventinho bom. Al Ain, onde será a estreia, é mais perto da montanha, faz pouquinho mais de frio. Durante o dia, aqui faz no máximo, 26ºC. Está perfeito para ir ao futebol.