Jorge Almirón é um sujeito afável. Depois da maior vitória em seus 46 anos de vida, ao virar com o Lanús três gols de desvantagem no placar agregado e fazer 4 a 2 no River Plate, ele foi entrevistado pelo repórter da Fox Sports brasileira. Estava no ainda no campo, abraçado à filha e à sobrinha. O repórter agradeceu, afinal, naquele momento de alta temperatura, o técnico respondeu a cinco ou seis perguntas. Foram três minutos e 35 segundos de conversa.
Quem ensina os garotos a dar chutão para o alto?
Jorge Almiron
Técnico do Lanús
- Obrigado pela entrevista, Jorge.
A reação de Almirón, ficou nítido, desconcertou o repórter, acostumado com as respostas atravessadas e sempre apressadas dos técnicos nesses momentos de alta tensão.
- Não, que isso. Eu é que agradeço pela entrevista - disse, exibindo humildade.
O técnico que deu ao Lanús três dos seus seis títulos tem como marca o sorriso e o fino trato. Ele só se irrita por um motivo: quando o seu time deixa de jogar o futebol escorreito, de troca macia de passes, de avanço coletivo com a bola, costurando as jogadas. Se um jogador do Lanús apela para o chutão, já sabe que encontrará o técnico irritado no vestiário. Em agosto deste ano, numa longa entrevista ao jornal Clarín, Almirón criticou o futebol de poucos recursos técnicos visto nos campos argentinos e questionou os zagueiros do país:
- Onde aprenderam a jogar na infância? Quem ensina os guris a dar chutão para o alto?
O Lanús de Almirón mostrou alma contra o River. É do DNA do clube ser valente. Só assim conseguiu sobreviver entre os grandes de Buenos Aires. O Lanús, para se ter uma ideia, tem cerca de 40 mil sócios e um estádio para 46 mil pessoas que não consegue lotar. Por isso, deixa um setor de arquibancada vazio. Talvez na final da Libertadores consiga mobilizar toda a sua gente.
O que Almirón fez foi implementar nesse clube brioso um estilo de jogo mais clássico. O goleiro Andrada, perceba, só dá o chutão em último caso. O técnico encontrou no Lanús o terreno fértil para consolidar sua ideia de futebol. Quando chegou, em dezembro de 2015, encontrou um clube organizado e no caminho dos títulos. Guillermo Barros Schelloto, hoje no Boca, havia ganho a Sul-Americana e mantido o time em alta no Argentino.
Almirón vinha de uma passagem turbulenta pelo Independiente. Era sua primeira experiência em um dos cinco grandes do país. Só que o clube estava em crise financeira e vindo da Segunda Divisião. Além disso, ele era um novato na área. Sua carreira de jogador havia sido feita quase toda no México, onde também começou como técnico. Na Argentina, tinha comandado com algum êxito o Defensa y Justícia e saído às turras com o presidente do Godoy Cruz. A falta de trajetória pesava na hora das críticas. A tradição no país é de ex-jogadores históricos assumirem os clubes.
Há duas temporadas em Lanús, hoje Almirón é o técnico do momento entre os hermanos. A AFA buscou informações a seu respeito antes de designar Edgardo Bauza. Seu empresário, Cristian Bragarnik, é um dos principais do país e não esconde: no final do ano, Almirón deve deixar o clube para voos mais altos. A dúvida é se haverá escala em Abu-Dhabi.