O Lanús passou boa parte de sua história restrito aos domingos em Lanús, cidade ao sul de Buenos Aires e que faz parte do cinturão que compõe a região metropolitana da Capital Federal. Nesta década, o clube parece ter atingido a maioridade. Venceu a Copa Sul-Americana de 2013, sobre a Ponte Preta e, sob o comando de Jorge Almirón ganhou três dos seus seis principais títulos.
- É o mais vencedor da história do clube, em oito meses ganhou três títulos - resume Leandro Piñón Gazcón, repórter do site Corazón Granate, que também é um programa diário na rádio Independência AM 1.140,
de Buenos Aires.
Na noite desta terça-feira, o Lanús fez história ao conseguir uma virada heróica sobre o River Plate, vencendo o segundo jogo da semifinal por 4 a 2 e garantindo a classificação inédita à decisão da Libertadores.
A seguir, conheça o Lanús em sete toques.
UM CLUBE DE BAIRRO
Lanús é uma das cidades que formam o cinturão ao redor da Capital Federal. Um partido, como chamam os argentinos, assim como são os outros três com os quais faz limite ao Sul de Buenos Aires: Avellaneda, endereço de Racing e Independiente, Lomas de Zamora, casa do Banfield, e Quilmes, sede do clube e da cervejaria homônimos. O Banfield, aliás, é o grande rival, com quem protagoniza jogos de sair faíscas.
Mesmo Lanús tendo prefeito e tudo o mais que se exige de uma cidade autônoma, no âmbito do futebol ele é considerado um dos clubes de bairro da Capital. Seus torcedores aceitam a qualificação. Mas adotam o mais legítimo espírito porteño. E se autodefinem como "o maior clube de bairro do mundo".
O MODELO TÁTICO
O Lanús gosta da bola, de trocar passes, de costurar e de criar espaços onde paree que não existem. Até a partida contra o River, apenas em um dos 10 jogos da Libertadores havia acabado com menos posse de bola do que o rival Foi contra o The Strongest, nos 3,6 mil metros de La Paz. Na semifinal, isso se repetiu de forma mais aguda, os rivais tiveram a bola em 60% do tempo.
Almirón monta seu time em um 4-3-3 que varia para um 4-5-1 que é quase ferrolho. Não à toa levou apenas sete gols na competição (e fez 17). A defesa é bem postada e teum diante dela Marcone, um volante com tamanho de zagueiro que só abandona o posto por decreto.
À frente dele, estão Pasquini e Fernández, o organizador do time. Aberto nas pontas, ficam o uruguaio Alejandro Silva, pela direita, e Lautaro Acosta, pela esquerda. No ataque, batendo cabeça com os zagueiros, fica José Sand.
LA FORTALEZA
O Estádio Ciudad de Lanús Néstor Díaz Pérez está encravado em um parque poliesportivo, em que há cancha de hóckey, ginásio,campo de rúgbi e pista de ciclismo, entre outros espaços para esportes. Para os fãs do Lanús, interessa apenas o estádio, o La Fortaleza, como chamam. Com capacidade para 46 mil pessoas, está apto para recber outra final da Conmebol (em 2013, viu o time ganhar a Sul-Americana da Ponte).
Como a torcida do Lanús não ocupa todos os espaços e a lei argentina proíbe torcida visitante, alguns setores nem são abertos — são os clarões que vimos na TV. O aspecto lembra os estádios brasileiros dos anos 90, com arame farpado e um fosso com água parada separando a torcida do campo.
O GOLEIRO
Aos 26 anos, Esteban Andrada finalmente se afirmou e mostrou tudo o que prometia em 2011. Naquele ano, com a seleção sub-20, foi destaque no Sul-Americano e no Mundial da categoria. Nesse, defendeu pênaltis contra Portugal.
O Barcelona desceu em Lanús e ofereceu US$ 4 milhões pelo guri. O clube pediu mais. Os catalães se foram, e a carreira de Andrada foi um tobogã. Em 2014/2015, foi emprestado ao Arsenal-ARG e voltou de lá com 65 gols em 40 jogos. Era o terceiro goleiro.
Só que o reserva foi emprestado e, em dezembro, o titular se lesionou jogando fut-tênis em casa. Havia chegado a sua hora. Os dois pênaltis defendidos na decisão das quartas com o San Lorenzo o alçaram de vez. Há quem diga que Jorge Sampaoli o monitora para a Seleção.
OS VETERANOS
Jose Sand, 37 anos, começou no River, rodou por Espanha, Dubai e México, passou até pelo Vitória. Mas é no Lanús que o correntino joga como um craque e faz história. Ele é um dos três remanescentes do título argentino de 2007 que estiveram nos títulos de 2016 (Transición e Copa Argentina) e agora buscam a Libertadores.
Os outros dois são o capitão e lateral-esquerdo Velázquez, 36 anos, e o extrema Lautaro Acosta, 29. Velázquez é patrimônio do Lanús. Ultrapassou a barreira dos 400 jogos e se tornou o jogador que mais atuou pelo clube. Acosta é a joia. Até saiu para jogar no Boca, levado por Guillermo Schelotto, mas voltou e, com a camisa grená, chegou à seleção de Jorge Sampaoli.
O PROFESSOR
O Lanús conta seis títulos relevantes em sua história. Três deles foram em oito meses sob o comando na Era Jorge Almirón: a Copa Bicentenário, o Transición (um Argentino curto, de seis meses) e a Supercopa Argentina, sobre o River.
Almirón nunca foi um jogador de trajetória no futebol local. Fez quase toda a carreira no México. Como técnico, iniciou no futebol asteca e rodou por clubes menores da Argentina. Sua maior chance havia sido no Independiente, mas o clube estava tão quebrado que era tinha de ajudar na alimentação das categorias de base.
Depois de vencer o Transición, questionado pelo jornal La Nación sobre o que lhe remetia a palavra campeão, ele respondeu de primeira:
— Vontade de chorar!
— Por quê? — indagou o repórter.
— Porque, para mim, isso era algo distante demais.
EL GRANATE
Não há pesquisa na Argentina que estime a quantidade de torcedores do Lanús. O único balizador são os 40 mil sócios. Eles são fiéis no caixa do clube, mas não no estádio. O Granate, como é conhecido, pela cor grená da camisa, só lota os 46 mil lugares do La Fortaleza em ocasiões bissextas. Tanto que torcedores do River compraram, pela internet, ingressos destinados a torcedores não-sócios do Lanús e o retiraram no centro de Buenos Aires.
O clube e as autoridades preparam uma operação pente-fino para evitar que se aproximem do estádio nesta terça-feira. Os granates são poucos, mas orgulhosos. Em Lanús, principalmente na parte oeste, onde está a sede, a devoção ao clube está marcadas nas paredes e nos muros das casas pintados de grená.