A partir desta sexta-feira, a coluna trará sempre um bate-bola com algum personagem do futebol. O primeiro convidado é Alessandro Barcellos, vice-presidente de administração do Inter e que até julho acumulou também o cargo de de vice de finanças — agora, com Leandro Bergmann.
Oriundo da gestão pública e com especialização em gestão da inovação pela Unicamp, Barcellos recebeu do presidente Marcelo Medeiros a missão de recolocar a casa em ordem no Beira-Rio. Além de receber cofres raspados, foi preciso fazer uma ginástica para quitar débitos com os jogadores.
A gestão Vitório Piffero deixou pendurados dois meses e meio de direitos de imagem e mais uma folha salarial e as férias do grupo rebaixado. Nos próximos dias, o orçamento para 2018 será fechado. A previsão é de mais dinheiro para o futebol, que permita montar um time forte neste retorno à Série A.
Confira trechos da conversa com Barcellos.
Como esta gestão recebeu o Inter em janeiro?
Pegamos o clube com déficit de caixa em torno de R$ 25 milhões. Oscilando com alguns outros compromissos, esse valor chegava quase a R$ 30 milhões. No primeiro momento, a ideia foi colocar essas contas em dia. A prioridade foi dada aos direitos de imagem e à folha de pagamento atrasadas de 2016.
Quanto disso estava atrasado?
Havia dois meses e meio de direitos de imagem e um mês, mais férias, do salário da carteira. Essas dificuldades, na hora de remontagem de um grupo, como foi feito, são prioritárias. Por isso, chamamos todos os fornecedores e propusemos renegociação, com prazos alongados e redução de multa e juros. Tudo dentro de um fluxo que podíamos pagar. Era fundamental recuperar a credibilidade junto aos fornecedores e parceiros. Tivemos excelentes respostas deles, por isso jogamos esses compromissos para adiante e pudemos quitar de imediato os débitos com os jogadores.
A saúde financeira do clube está controlada?
A partir dessas medidas tomadas no início do ano, alcançamos um fluxo de caixa ao qual pudemos atender. Refizemos todos os contratos com fornecedores, principalmente na área administrativa, com redução, considerando a inflação, em torno de 20% a 25% dos valores.
Que contratos eram esses?
Variados, iam de segurança e limpeza até o aplicativo do clube, passando por alimentação, entre outros itens. Trabalhamos com não com a redução de pessoal, mas de melhor gestão, principalmente do quadro móvel, aquele usado nos dias de jogos. Reduzimos horas extras e tarefas, isso nos deu condição de ter fluxo de caixa para colocar em dia os credores e não atrasar nenhum dia o direito de imagem e o salário dos jogadores. Tudo está sendo cumprido à risca e há folga para manuseio do caixa até dezembro.
O Inter fechará o ano no azul?
Vamos buscar, com redução de custos, fechar mais perto disso. O nosso orçamento previa receita maior com venda de atleta. Tivemos a venda do William no primeiro semestre. Hoje, ainda precisamos vender jogador para fechar no positivo. Temos de chegar ao final do ano com um conta muito justa, mas não será fácil. Exigirá demais. Buscamos reduzir despesas para compensar. Provavelmente, haverá déficit, mas o ano não está fechado ainda.
Com tantas contratações e saídas, o Inter conseguiu baixar a folha salarial?
O departamento de futebol também assumiu esse compromisso de ajustar as contas. Manteve equilíbrio na folha salarial e, na minha ótica, fez negócios excelentes para o clube. Não houve muita variação na folha em relação a 2016. Ela oscila, conforme o mês, entre R$ 8,5 milhões e R$ 9 milhões mensais, incluindo o Inter B.
A verba para a montagem do time de 2018 será maior? Isso já está previsto?
Não fechamos o orçamento, ainda estamos trabalhando no planejamento de 2018. Mas é evidente que envolverá esforço do clube para qualificar o grupo. Com certeza, vamos trabalhar para que se tenha condição de disputar a Série A com competitividade.
O que significa ao caixa voltar à Série A?
Em termos de contratos, felizmente, as verbas se mantiveram em 2017. A partir de 2018, a cota de TV será conforme o desempenho. Voltar à Série A nos dará retorno positivo no que chamamos de valor agregado: se vende mais cadeira, mais ingresso, tem-se mais movimento no clube, abrem-se mercados a outros patrocinadores. Não perdemos neste ano, é verdade, mas jogar a Série A nos traz outras oportunidades.
A Operação Série B, com voos fretados e outros confortos aos jogadores, elevou os gastos?
Se comprar com algumas gastos de 2016, na Série A, a grosso modo, não houve uma grande diferença. Foram alguns voos fretados, mas, por outro lado, não tivemos despesas que usamos em 2016. Não houve neste ano gasto que impactará no no orçamento. Se por um lado tivemos voos fretados, por outro usamos ônibus para ir a Caxias, Criciúma, Pelotas. Casualmente, me detive a comparar esses gastos no orçamentos de 2016 e 2017.
A Série B tirou ou trouxe mais sócios?
Estamos com entre 90 mil e 92 mil sócios em dia. Digo assim porque oscila muito, é difícil dizer esse número de forma categórica. Somando os inadimplentes, temos em torno de 109 mil sócios. O positivo, que mostra o quanto a torcida nos abraçou, é que a inadimplência está em queda. Na volta à Série A, teremos número significativo de adesão. Tenho certeza, o associado será um dos pilares em 2018. Trabalhamos para ultrapassar a barreira dos 120 mil sócios.