Ninguém tem dúvida do sucesso do Kichute no Brasil. Lançado pela indústria Alpargatas em 1970, ano do tricampeonato da seleção canarinho no México, foi uma mistura de tênis e chuteira. Meninos e meninas das décadas de 1970, 1980 e 1990 lembram da durabilidade do Kichute preto, usado na escola, nos campinhos de futebol e até para passear. Muitos recordam que era o calçado que cabia no bolso do pai e da mãe.
Afinal, era um calçado barato? Sei que muitas famílias não conseguiam comprar o Kichute, mas, sim, era mais acessível que outros tênis e, principalmente, chuteiras. Em busca de resposta, procurei propagandas antigas. Em um anúncio do supermercado Real na volta às aulas de 1979, publicado em Zero Hora, o Kichute custava a partir de Cr$ 69,90. Os preços variavam de acordo com a numeração do calçado. Para efeito de comparação, um caderno de 96 folhas custava Cr$ 14,98 e uma tesoura colegial, Cr$ 11,60.
Outra propaganda da loja J.H. Santos permite uma comparação com outros calçados. Em dezembro de 1978, o Kichute era vendido a partir de Cr$ 54. O tênis Conga era mais barato, Cr$ 33. Uma chuteira Triunfo era quase três vezes mais cara do que o Kichute, Cr$ 159. O tênis Rainha Copacabana custava Cr$ 265.
Feito com lona, o Kichute era reforçado na frente e com garras de borracha. Muitos estudantes usavam o tênis como parte do uniforme da escola. Com cadarço grande, era comum ver a gurizada enrolar nos tornozelos ou nos pés antes de amarrar.
Com o slogan "Kichute, calce esta força", a Alpargatas atingiu a venda de até nove milhões de pares por ano nos melhores momentos. O craque Zico foi garoto-propaganda da marca, que era usada também em bolas de futebol de campo e de salão.
Em propagandas da década de 1980, o Kichute era mais barato do que o tênis Bamba e mais caro em relação ao Conga, outros dois produtos da Alpargatas. A mistura de tênis e chuteira perdeu aos pouco o encanto nos 1990 até deixar de ser fabricado.