Muitas empresas, marcas e produtos de antigamente deixam saudades. Quando escrevo sobre a Varig, por exemplo, chegam mensagens de ex-funcionários e passageiros da companhia aérea. Entre tantos temas que já publiquei, nenhum pode ser comparado ao Kichute. É disparado aquele com mais saudosismo.
Lançado pela indústria Alpargatas em 1970, ano do tricampeonato do Brasil no México, foi usado por muitas crianças e adolescentes até a década de 1990. O calçado preto, feito com lona, resistia a todos os campos, do areião ao asfalto. O reforço de borracha na frente garantia maior durabilidade. Com as garras na sola, virou opção para quem não conseguia comprar uma chuteira. Aliás, era definido como mistura de tênis e chuteira.
Recentemente, encontrei um par na vitrine da Casa do Cacaredo, loja no Shopping Total. Em estado de novo, nunca usado, tamanho 36. É o último de um lote comprado em um armazém que fechou as portas em Santa Catarina. Em vídeo que publiquei nas redes sociais, mais uma vez, uma incrível repercussão de saudades e boas lembranças. Mensagens de pessoas de todo o Brasil.
O que explica tanto fascínio pelo Kichute? Chego a uma conclusão lendo os comentários daqueles que foram as crianças e os adolescentes dos anos 1970, 1980 e 1990. Mesmo resistente, não era melhor que os tênis e chuteiras de hoje. Aliás, muitos lembram do chulé. O cadarço longo exigia que o tope fosse feito nos tornozelos.
O Kichute traz as memórias das longas tardes de futebol com irmãos, primos e amigos. Recordações dos recreios no colégio. Os melhores jogadores do passado voltam ao tempo dos sonhos de chegar a um grande time de futebol profissional. O calçado é o símbolo de uma época que não volta mais. A saudade é daquele tempo. O Kichute fez parte de momentos felizes da vida, sem os compromissos da fase adulta.
Com o slogan "Kichute, calce esta força", a Alpargatas atingiu até nove milhões de pares vendidos por ano. O craque Zico foi garoto-propaganda da marca, que era usada também em bolas de futebol de campo e de salão.
O tênis perdeu o encanto na geração dos 1990, até deixar de ser fabricado. O Kichute virou item de colecionador e de lembrança da infância.