Eu nunca vou esquecer a cena de um tio correndo com Kichute numa quadra de asfalto no início dos anos 1990. O famoso tênis já não estava mais no auge, mas continuava firme e forte. Sempre foi muito bom para fazer gol de bico. Lançado pela indústria Alpargatas em 1970, ano do tricampeonato do Brasil no México, virou sonho de consumo da gurizada.
O Kichute era, acima de tudo, resistente, usado na grama, no campo de terra e até no asfalto. Todo preto, feito com lona, reforçado na frente e com garras de borracha. Mais acessível do que as chuteiras para as famílias comprarem, estava nos pés de meninos nos anos 1970 e 1980. Muitos estudantes usavam o tênis como parte do uniforme da escola. Com cadarço grande, era comum ver garotos enrolarem nos tornozelos antes de amarrar.
Com o slogan "Kichute, calce esta força", a Alpargatas atingiu a marca de venda de até nove milhões de pares por ano nos melhores momentos. O craque Zico foi garoto-propaganda da marca, que era usada também em bolas de futebol de campo e de salão. O tênis perdeu aos pouco o encanto nos 1990 até deixar de ser fabricado.
Não sai mais de fábrica, mas o Kichute ainda pode ser encontrado à venda. O dono da loja Casa do Cacaredo, Ricieri Cunha, comprou 50 pares infantis que estavam no estoque de um armazém no interior de Santa Catarina em 2020. Um lote novinho, que ficou esquecido no tempo. Vendeu os pares por R$ 90 na loja em Porto Alegre. Ele me contou que, com o clássico calçado, os clientes querem relembrar da infância.
Na internet, encontrei Kichute, sem uso, vendido por até R$ 500 no tamanho para adultos. Se estiver com saudades e sorte, talvez você encontre até um par do tamanho do seu pé.
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