Uma surpresa emergiu da Lagoa do Marcelino, em Osório, durante limpeza em outubro. O operador de máquinas Roberto Brum encontrou uma âncora submersa. O objeto de ferro foi retirado das águas no local onde funcionou por quase quatro décadas o trapiche principal do Porto Lacustre.
O historiador e escritor Rodrigo Trespach, morador de Osório, me alertou sobre o achado. A âncora é parte da história da navegação no Litoral Norte, de algum barco que atracou no porto. Com base nas pesquisas de Trespach, resgato como as lagoas foram importantes para a região.
A navegação entre as lagoas teve início no final do século 19, com as famílias de imigrantes alemães que ficaram na região dos atuais municípios de Três Forquilhas, Itati e Dom Pedro de Alcântara. O objetivo era levar aos centros comerciais a produção das colônias, como farinha, banana, telhas e cachaça. Originalmente, a rota começava pela Lagoa Itapeva e se estendia até Osório, então Conceição do Arroio, aproveitando a ligação natural entre as lagoas.
Com base no Plano Geral de Viação do Estado, concebido em 1913, novos canais foram construídos, resolvendo o problema de ligação entre os pequenos portos. Em Osório, a Lagoa do Marcelino foi ligada à Lagoa do Peixoto, que foi conectada à da Pinguela. A rede de transporte fluvial chegou a uma ferrovia com 53 quilômetros, do porto de Osório ao de Palmares do Sul. Pela Lagoa dos Patos e pelo Guaíba, mercadorias do Litoral poderiam alcançar Porto Alegre.
A inauguração do complexo com o porto de Osório e a ferrovia ocorreu em 15 de novembro de 1921. A administração ficou com a empresa de Serviços de Transporte entre Palmares do Sul a Torres (STPT). A operação terminou em dezembro de 1960, quando o STPT foi desativado e o porto de Osório desmantelado. Hoje, a área está sendo revitalizada. No centro da cidade, onde antes ficava a Estação Urbana, está o Museu da Via Férrea, que conta com a locomotiva 203, que fazia o percurso Osório-Palmares do Sul.
Ouça! Rodrigo Trespach conta a história da navegação nas lagoas do Litoral Norte do Rio Grande do Sul.
Colabore com sugestões sobre curiosidades históricas, imagens, livros e pesquisas pelo e-mail da coluna (leandro.staudt@rdgaucha.com.br)