Se tem um doce adorado pelas crianças, são as balas. Lembro do baleiro de vidro que ficava no balcão do armazém do meu avô. Ele era grande, com uns 12 ou 15 espaços. Que alegria ver um adulto desenroscando a tampa de metal e tirando lá de dentro uma bala. Dos anos 80, recordo de marcas como Mocinho, Xaxá, 7 Belo e a temida e saborosa Soft.
Nunca me engasguei com as coloridas e duras balas Soft, mas não faltavam alertas dos adultos. Não sei se era realidade ou lenda urbana. Aposto que você também ouviu a história de alguém que teria morrido engasgado. Em acervo digital de jornais das décadas de 80 e 90, até procurei notícias sobre fatalidades com a balinha. Nada encontrei. Em redes sociais, é fácil localizar relatos de engasgados, que, é claro, sobreviveram para escrever o testemunho no Facebook.
A Soft era uma bala redonda e dura. Qual o tamanho? Pela minha lembrança, poderia ser comparada hoje a uma moeda de R$ 1, mais larga. As balas eram muito boas, em várias cores e sabores. Elas ficavam grudadas no plástico transparente da embalagem, dando a sensação de vitória quando abertas.
A propaganda da Soft dizia que "ainda não inventaram uma bala mais gostosa". O doce era produzido pela fábrica Q-Refres-Ko, de São Paulo, fundada na década de 1960 por Armando Cepeda, Silvio Profeta de Oliveira e Luiz Redoschi, ex-funcionários da Kibon. Em 1970, a indústria já exportava seus produtos, incluindo a Soft.
A Kibon virou sócia da operação em 1982. A Q-Refres-Ko também produzia marcas como o chiclete Ploc e o refresco em pó Fresh. A Kibon entrou no negócio com marcas como Tang e Ki-Suco, além dos chicletes Ping-Pong e Plets.
Em 1987, mais de 100 milhões de balas Soft foram exportadas para os Estados Unidos. Em 1993, a multinacional Philip Morris, dona da Kibon, comprou as ações da família Cepeda e assumiu o controle da Q-Refres-Ko.
Sob novo controle, a tradicional bala Soft, lançada na década de 1960, saiu do mercado. Em outras formas, voltou a ser vendida. Chegaram a produzir a bala com um furo redondo no meio para evitar sufocamento.
A Soft está na lista das marcas nostálgicas.
Soft gaúcha
Uma indústria gaúcha ainda produz bala que lembra a antiga Soft. A Berbau, de Erechim, vende a Soft Classic nos sabores laranja, limão, uva e morango. O gerente comercial João Luiz Perez conta que desde o ano 2000, quando empresa foi adquirida pelos atuais proprietários, não há registro de clientes engasgados. A bala é vendida em todo o Brasil e exportada para outros países.