Se um dirigível causa encantamento no século 21, em tempo de tantos aviões no céu, imagine a sensacional passagem do Graf Zeppelin por Porto Alegre em 1934. Fabricado na Alemanha, o gigante "charuto voador" media 236 metros de comprimento. Na década de 1930, fazia viagens cruzando o Oceano Atlântico, levando passageiros, mercadorias e correspondências entre Europa e América.
Em 1930, a empresa alemã Luftschiffbau Zeppelin GmbH fez a primeira viagem ao Brasil, com paradas em Recife e Rio de Janeiro. No vídeo abaixo, imagens do acervo da produtora Leopoldis-Som mostram a aeronave na primeira passagem pela capital brasileira. Além das cenas sobrevoando a Cidade Maravilhosa, é possível conhecer o interior da aeronave.
Nos anos seguintes, os alemães mantiveram voos regulares ao Brasil. A Varig oferecia um serviço consorciado com a Condor e o Zeppelin. A companhia de aviação gaúcha fazia as rotas no Rio Grande do Sul. Em Pelotas e Rio Grande, por exemplo, buscava correspondências e passageiros. A Condor conectava com avião Porto Alegre e Recife, de onde partia o dirigível. O jornal A Federação noticiava que era o transporte mais rápido entre Brasil e Europa, possibilitando o trajeto de Porto Alegre à Alemanha, no inverno, em apenas cinco dias.
A única passagem do Graf Zeppelin pelo Rio Grande do Sul ocorreu em 29 de junho de 1934, durante viagem entre Rio de Janeiro e Buenos Aires, com 20 passageiros. Quando estava em Recife, na primeira parada no Brasil, o comandante recebeu telegrama de jornais da capital gaúcha apelando para sobrevoar a cidade durante o dia. Com o trajeto confirmado, era grande a expectativa nas ruas.
Ninguém sabia o horário certo do voo sobre Porto Alegre. Em frente às redações dos jornais, placas usadas para notícias urgentes eram atualizadas durante a manhã. Um avião da Varig sobrevoava a cidade com uma mensagem, em vermelho, sob as asas: "Zepelin, 12hs". Era um comunicado.
A população estava nas ruas e praças de Porto Alegre. Nos prédios mais altos, muita gente queria ficar mais perto do dirigível. No Palácio Piratini, estavam as autoridades. Às 13h20, começaram a ver, ainda longe, o Zeppelin. O gigante dos ares passou pelo Centro às 13h45. Em baixa altitude, circulou sobre o Palácio Piratini, deixando cair uma mensagem de saudação ao Rio Grande do Sul. Depois de duas voltas sobre a cidade, seguiu rumo ao Sul.
No trajeto pelo Estado, o Graf Zeppelin também sobrevoou outras cidades, como São Leopoldo, Pelotas e Rio Grande. Nos primeiros dias de julho, a produtora Leopoldis-Som já exibia, no cinema Ypiranga, o filme "Zepelin sobre Porto Alegre". O vídeo se perdeu, talvez no incêndio de 1965.
Imagens raras da passagem do Zeppelin na capital gaúcha foram descobertas pelo pesquisador cultural Jadir Anchieta. O vídeo gravado por João Bastos de Aguiar, ex-prefeito de São Francisco de Assis, mostra cenas do Centro e do bairro Teresópolis. Na parte final, é possível ver a mobilização da população e o dirigível no céu. São fragmentos da memória daquele dia agitado na cidade.
Em 1936, os nazistas em ascensão na Alemanha obrigaram a Luftschiffbau a colocar a suástica nos dirigíveis. A operação do Graf Zeppelin foi suspensa no ano seguinte, depois de tragédia com outro dirigível da empresa, o Hindenburg, que pegou fogo nos Estados Unidos, matando 36 pessoas.