Durante a Segunda Guerra Mundial, automóveis começaram a circular no Brasil com estranhos tambores na traseira. O governo federal incentivou a instalação de equipamentos para rodar com gasogênio, gás obtido com a queima de carvão ou lenha. Os brasileiros conviviam com racionamento e elevação de preço da gasolina e do diesel.
Em 1939, o presidente Getúlio Vargas criou a Comissão Nacional do Gasogênio, vinculada ao Ministério da Agricultura. O objetivo inicial era promover o uso em tratores, caminhões e instalações fixas, além de incrementar fabricação de equipamentos e incentivar replantio de florestas. Os aparelhos deveriam ter certificado de registro na comissão.
O ministro da Agricultura, Fernando Costa, fez uma viagem entre Rio de Janeiro e Petrópolis, em janeiro de 1940, para mostrar a economia com a conversão dos automóveis. Em relação à gasolina, a viagem ficou 85% mais barata com o carvão. As propagandas dos fabricantes e instaladores dos equipamentos ficaram mais frequentes nos jornais em 1942 e 1943, no auge da guerra.
O governo determinou que donos de frotas deveriam ter pelo menos um a cada 10 caminhões com gasogênio. Ônibus e tratores também receberam o kit, fabricado por várias indústrias nacionais. Dizendo que "utilizar gasogênio é ser patriota", a propaganda da marca Spagas oferecia um gerador de 55 quilos de carvão, com rendimento de dois a três quilômetros por quilo. A autonomia era de até 165 quilômetros com uma carga, mas o motorista poderia levar mais carvão ou lenha para reabastecer o veículo durante a viagem.
Em Porto Alegre, a tradicional fábrica de cofres Berta produziu aparelhos para veículos. Os panos de filtragem eram feitos pela indústria Renner. Luiz Fernando Andreatta e Paulo Roberto Renner, no livro Automobilismo no Tempo das Carreteras: em especial no Rio Grande do Sul, contam que a capital gaúcha teve em 1943 e 1944 corridas com carros movidos a gasogênio. Automóveis com o gasogênio Berta competiram, ajudando na divulgação do produto.
Em relatório de 1945, o governo federal apontou que mais de 30 mil veículos eram movidos a "gás pobre", como chamavam na época. Metade no estado de São Paulo. Além do alto custo, motoristas reclamavam que os veículos perdiam potência e rendimento. Com o fim da guerra, o mercado do petróleo foi regularizado. Em setembro de 1948, a Comissão Nacional do Gasogênio foi extinta.
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