É triste dizer isso, especialmente como alguém que tem como propósito temas como a igualdade de gênero e o respeito às mulheres, mas não sinto a menor alegria em comemorar a condenação do estupro cometido por Daniel Alves. Sim, há de se reconhecer (e saudar) que uma lei teve força para sustentar o depoimento da vítima, que foi protegida — como deve ser — e acolhida pelas autoridades. Mas confesso minha absoluta dificuldade em celebrar que um ser humano com a trajetória de Daniel, que viveu uma infância difícil, que aos 10 anos dormia numa cama de concreto em uma pequena casa de sua família em Juazeiro, que por ter chegado onde chegou inspirou milhares de meninos a buscarem seus sonhos através do esporte, celebrar que ele tenha agredido e estuprado uma jovem e, por consequência, pagará por isso.
Ele cometeu um crime e deve pagar? Sim. Por óbvio. Ninguém aqui passa pano para abusadores. Mas o que me proponho a refletir, neste caso, é que Daniel não é o monstro distante que os filmes nos fizeram crer que existe. Ele é um de nós. Poderia ser um amigo, um colega de trabalho. E por isso mesmo é de uma tristeza profunda.
É ver que somos todos atravessadas por esse machismo estrutural, por essa ideia de que homem determina o que a mulher deve fazer, que a mulher não tem direito a dizer que não. Quer se separar? Então vou te matar.
É essa cultura, perpetuada por séculos, de uma masculinidade doentia, tóxica, que nos leva a episódios como este. Isso sem falar nos casos em que nós, mulheres, pagamos com nossa própria vida.
No caso de Daniel, a jovem traumatizada dificilmente conseguirá apagar a dor e os gatilhos que se deram a partir da violência sofrida. Não há indenização que pague a dor. Triste. Dolorido. Uma violência. Um trauma. Perdemos todos.