É de corar as carpas do Palácio da Alvorada, mas não chega a ser surpreendente: o presidente da República se defendeu das acusações de corrupção no Ministério da Educação, evidenciadas a partir de operação da Polícia Federal, dizendo que o escândalo não foi como a corrupção de seus antecessores.
- Você pode ver, não foi corrupção da forma que ta acostumada a ver em governos anteriores - afirmou.
Relembremos.
Reportagem do Estado de São Paulo revelou a existência de um gabinete paralelo junto ao MEC, em que pastores pediam propina, em um caso de R$ 30 mil para liberar recursos públicos para construção de creches ou escolas técnicas. Em um episódio, o pastor sugeriu que o pagamento fosse feito em compra de Bíblias de outro pastor, indicado pelo intermediário.
Não custa lembrar, mas corrupção é corrupção. E, como tal, deve ser punida. A Operação Lava-Jato, num passado longínquo celebrada por Bolsonaro e comandada por seu ex-ministro da Justiça Sergio Moro, reforçou um entendimento de que bastava que o agente público ofertasse a propina para que ficasse configurado o crime. É crime e deve ser punido.
Bolsonaro voltou atrás quanto à afirmação de que botaria "a cara no fogo" por Milton, agora disse que somente botaria a mão. A defesa surgiu somente depois que o ex-ministro foi solto por determinação judicial, por um desembargador, aliás, que é candidato a uma vaga no Superior Tribunal de Justiça.
O presidente criticou a prisão, tal como fez o ex-presidente Lula, sugerindo que a decisão foi política e que o objetivo era prejudicá-lo na corrida eleitoral.
Conforme interlocutores, aliados ainda utilizarão o episódio para dizer que esse governo não tem tolerância com desvios, o que vai na direção contrária da informação trazida pelo delegado Bruno Calandrini, que comandou a operação. Em carta aos colegas, o delegado afirmou que a Polícia Federal teria dado tratamento diferenciado o ex-ministro Milton Ribeiro. A suposta interferência foi revelada pelo jornal Folha de São Paulo. E é gravíssima.
Há alguém protegendo integrantes do governo quanto às investigações? A mando de quem? Quem determina quem pode ser investigado? É urgente que essas questões sejam apuradas e, se assim ocorreu, que responsáveis sejam punidos.