Muitos são os comentários a respeito da conduta "terrivelmente evangélica" do (agora aprovado) novo ministro do STF, André Mendonça. Contudo, é preciso ir além para avaliar o aval do Senado ao ex-ministro da Justiça de Bolsonaro e futuro integrante da Suprema Corte.
Não se trata de notório saber jurídico ou mesmo da postura conservadora nos costumes, mas sim a clareza quanto ao posicionamento garantista, que pode ser traduzido como contrário ao "lavajatismo" hoje decadente no STF.
Por lavajatismo entenda-se: a corrente que já foi forte na última instância do Poder Judiciário e validava os movimentos capitaneados pelo então juiz e hoje pré-candidato à Presidência da República, Sergio Moro. Cabe lembrar que a Lava-Jato teve seus dias de glória no Supremo até certo tempo, com homologação de delações premiadas e manutenção de condenações impostas pela 13ª Vara de Curitiba.
O vento virou. Em especial a partir das revelações do que ficou conhecido como "Vaza Jato", quando reportagens do portal The Intercept expuseram conversas entre o juíz (Moro) e os procuradores da Força Tarefa da Operação. A partir dali, a ala liderada pelo ministro Gilmar Mendes tomou a dianteira, denunciando condutas de Moro e Deltan Dallagnol, ex-procurador da República e que também se lançará candidato em 2022.
De lá pra cá, condenações foram anuladas, entre elas a do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que o permitiu voltar ao jogo político, também como pré-candidato para 2022. Mas não foi só ele. Somente nesta quarta-feira (2), o Superior Tribunal de Justiça anulou condenações de 15 réus — aplicadas pela Lava-Jato de Curitiba — e remeteu os processos à Justiça Eleitoral.
Entre os beneficiados: o ex-ministro Antonio Palocci, o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque e o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, todos condenados em 2017 pelo então juiz Moro.
Voltemos a André Mendonça. Na sabatina, o indicado por Bolsonaro não deixou dúvidas sobre seu posicionamento mais alinhado à ala garantista, ou seja, contrária ao "lavajatismo". Basta observar a declaração sobre a delação premiada, ponto que remete aos "métodos" da Operação:
— Entendo que uma delação premiada não é elemento de prova. Eu não posso basear uma convicção com base em uma delação. Delação não é acusação. Dito isso, eu entendo que o combate à corrupção tem que ser feito respeitando-se direitos e garantias individuais. Os fins não justificam os meios, nós precisamos respeitar a política — declarou.
É a partir daí que a confiança entre os senadores se estabeleceu. Durante todos esses dias em que a sabatina ficou pendurada por Davi Alcoulmbre, Mendonça soube deixar claro entre os parlamentares que seu posicionamento era pró-Congresso e desta forma, pavimentou seu caminho para a vitória.
A famosa frase do marqueteiro James Carville que elegeu Bill Clinton — "É a economia, estúpido" — deve ser adaptada aqui: não é a religião, é a política, estúpido.