O fim da força-tarefa de procuradores que materializou a Operação Lava-Jato não chega a ser novidade para quem acompanha de perto o cenário político nacional. Desde que vazaram as conversas entre integrantes do Ministério Público Federal e o então juiz Sérgio Moro — que deixou a 13ª Vara Federal de Curitiba para ser ministro de Bolsonaro — o clima azedou de vez em Brasília e deu munição a críticos costumazes dos procedimentos adotados pelo grupo.
À Rádio Gaúcha, em agosto de 2019, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes fez sua profecia:
— Eles já não têm mais condições de exercerem sua funcões — afirmou, em alusão aos diálogos entre os procuradores obtidos por hackers e divulgados pelo portal The Intercept Brasil.
Os diálogos obtidos através da apreensão de celulares de hackers tiveram o sigilo levantado nesta semana a partir de decisão do ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal. O magistrado atendeu um pedido da defesa do ex-presidente Lula, que insiste na tese de suspeição de Moro, enquanto ex-juiz federal.
O tom do ministro Gilmar Mendes à época (pouco após a publicação de reportagem do Intercepet) chamou a atenção.
— Se deixou um grupo de irresponsáveis à solta, comentendo crimes. A corregedoria tem que atuar — sentenciou, sobre o trabalho dos procuradores.
Na mesma ocasião, a procuradora Thamea Danelon, que chegou a coordenar a Lava-Jato em São Paulo, reagiu e disse que só faltava o ministro desejar que todos os presos acusados de corrupção fossem soltos.
O fato é que de lá pra cá, a Lava-Jato sofreu todos os reveses possíveis. O procurador-geral Augusto Aras, escolhido por Bolsonaro, não economizou nas palavras e deixou claro para quem quisesse ouvir que atuaria contra a força-tarefa — ele é o chefe do Ministério Público Federal. Em julho de 2020, Aras chegou a sentenciar:
— Agora é a hora de corrigir os rumos para que o lavajatismo não perdure — afirmou.
Seis meses se passaram desde esta declaração. O destino já estava escrito. Ontem, quarta-feira, a Lava-Jato chegou ao fim.