Na entrevista que concedeu na manhã desta quinta-feira (15) à Rádio Gaúcha, o ex-ministro da Justiça e ex-juiz federal Sergio Moro trouxe como um dos pontos principais uma frase que o presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores parecem não querer ver ou ouvir. Disse Moro, quando questionado sobre o escatológico e grave caso em que um senador da República e vice-líder do governo foi pego pela Polícia Federal om dinheiro entre as nádegas:
— O episódio nos traz como lição é que não existe esse negócio de "a corrupção acabou".
Não é preciso ter notório saber jurídico para interpretar que Moro se referia à fala recente de Bolsonaro, quando o chefe do Executivo anunciou o fim da Operação Lava-Jato porque no governo dele não havia mais corrupção. Ora, até as emas do Palácio da Alvorada sabem que a corrupção no Brasil está longe, muito longe de ter chegado ao fim em nível federal, estadual ou municipal.
Que o digam as operações da PF que apuram desvios milonários nas compras governamentais em meio à pandemia de coronavírus. Ou Fabrício Queiroz e os cheques depositados na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro. Ou mesmo as cédulas encontradas nas nádegas do senador, que segundo a revista Crusoé, estavam sujas de fezes no momento da apreensão feita por agentes da PF.
Não se trata aqui de analisar de forma rasa ou culpar Bolsonaro por todos os atos de corrupção praticados na administração pública — o presidente, aliás, foi eleito com a promessa de acabar com "isso daí". Contudo, urge uma reflexão sobre o depoimento do ex-ministro e ex-titular da Lava Jato, quando da confissão de que fora voz isolada no governo para defender a prisão após condenação em segunda instância. Se conferem as informações, onde está o real compromisso do presidente com o combate à corrupção?
Daí a necessidade de observarmos atentamente como a engrenagem política se move em Brasília. A se considerar os últimos episódios (indicação de Kássio Nunes ao STF, alianças políticas com líderes do centrão, aparelhagem da TV Brasil), o presidente dá sinais de que está cada vez mais conectado com as velhas práticas da política, inclusive posando ao lado de conhecidas raposas que outrora criticara.
Há quem diga que Bolsonaro sempre foi assim e cometeu um equívoco quem o elegeu com a esperança de que atuasse no sentido contrário. Em ambos os casos, quem perde, infelizmente, é a sociedade que sonha com um país menos corrupto e almeja governos essencialmente comprometidos com a melhoria de vida da população.