O presidente da República, Jair Bolsonaro, desistiu, por ora, de uma trégua na relação com o Supremo Tribunal Federal e resolveu partir para o ataque. Em manifestação divulgada na noite desta terça-feira (17), disse que não assistirá calado o que chamou de "abusos" presenciados nas últimas semanas e tomará as "medidas legais cabíveis". O presidente não precisou traduzir. Está mais claro que os objetivos do centrão que se trata de um recado direto às últimas operações da Polícia Federal, deflagradas com autorização do STF e, no caso desta segunda e terça-feira, a pedido da Procuradoria-Geral da República.
"Luto para fazer a minha parte, mas não posso assistir calado enquanto direitos são violados e ideias são perseguidas. Por isso, tomarei todas as medidas legais possíveis para proteger a Constituição e a liberdade dos brasileiros", escreveu o presidente.
O incômodo de Jair Bolsonaro se deve em especial à ordem para quebra de sigilo de parlamentares aliados no inquérito que investiga o financiamento de atos antidemocráticos no país. Conforme a coluna apurou, os pedidos feitos pela PGR - e autorizados pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF - buscam identificar quem financia e estrutura tais manifestações. As autoridades querem saber se há parlamentares envolvidos na organização e planejamento e também de onde saem os recursos que abastecem grupos que atentam contra a Constituição.
Aliás, cabe lembrar aqui outro bastidor: o presidente imaginou que pudesse haver, por parte do STF, uma espécie de "alívio" já que estaria disposto a demitir o ministro da Educação, Abraham Weintraub, depois que ele foi ao encontro de um grupo que disparou fogos de artifício simulando um bombardeio contra a Suprema Corte. Isso não aconteceu. E Bolsonaro recuou, ao menos nas últimas 24 horas, da ideia de demitir Weintraub, que tem forte apoio da ala ideológica.
Como se não bastasse, Bolsonaro ainda jogou para o STF a pecha de postura autoritária.
"Queremos, acima de tudo, preservar a nossa democracia. E fingir naturalidade diante de tudo que está acontecendo só contribuiria para a sua completa destruição. Nada é mais autoritário do que atentar contra a liberdade de seu próprio povo", completou.
Pelo visto, não há qualquer sinal de arrefecimento da temperatura política num futuro breve.