Uma semana após pedir demissão do governo Bolsonaro, o ex-ministro da Justiça Sergio Moro estará diante da Polícia Federal neste sábado (2), em Curitiba. Desta vez, no entanto, em papel diferente do que estava acostumado enquanto juiz federal responsável pela Operação Lava-Jato, que nasceu na capital do Paraná. Em inquérito instaurado a partir de despacho de 17 páginas do ministro decano do STF, Celso de Mello, Moro prestará depoimento a respeito das declarações que fez contra o presidente da República, acusado por ele de cometer interferência política no comando da Polícia Federal.
O inquérito foi instaurado pelo STF, a partir de um pedido feito pelo Procurador-Geral da República, Augusto Aras. E cabe aqui um parêntese. Trata-se de expediente para apurar a veracidade das informações prestados por Moro, ou seja, caso não sejam comprovadas as acusações feitas pelo ex-ministro da Justiça, o feitiço poderia virar contra o feiticeiro. Por isso, nos bastidores, há quem classifique o inquérito como um duelo Moro x Bolsonaro.
Daí a expectativa para o depoimento deste sábado. Fontes que conversaram com o ex-juiz da Lava-Jato asseguram que Moro possui, com ele, provas que embasam as acusações que fez. Além das mensagens, algumas já expostas ao Jornal Nacional, da TV Globo, Moro teria áudios e outras trocas de conversas que provariam a tentativa de interferência do presidente. Em uma troca de mensagens com Bolsonaro, revelada pela TV Globo, o presidente reclama do incômodo gerado em deputados bolsonaristas e acrescenta o comentário: "mais um motivo para a troca" na direção da Polícia Federal.
Outro detalhe importante: o inquérito instaurado pelo decano Celso de Mello é público. Então também há expectativa quanto à divulgação, nos próximos dias, do conteúdo do depoimento que será prestado por Sergio Moro às autoridades. E cabe ressaltar que Mello apressou o passo (inicialmente, havia proposto 60 dias para Moro prestar informações), a pedido de três parlamentares, o que dará celeridade à apuração. É o que espera, por exemplo, outro ministro da Suprema Corte Gilmar Mendes que dividiu com a coluna essa percepção, em entrevista ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha.
- Tenho impressão de que não vai demorar muito - afirmou Mendes.
A celeridade também é aposta até mesmo de advogados que conhecem o STF, isso porque o decano se aposentará em novembro deste ano. É quando Celso de Mello terá que, obrigatoriamente, deixar o cargo e será substituído por outro ministro, cuja indicação virá justamente do presidente da República, Jair Bolsonaro.
O depoimento está marcado para ocorrer à tarde. Além da Polícia Federal, três procuradores que trabalham diretamente com o procurador-geral, Augusto Aras, deverão acompanhar a fala de Moro em Curitiba.