Um dia após ser o convidado do programa Roda Viva, da TV Cultura, o médico Drauzio Varella conversou com o programa Timeline, da Rádio Gaúcha, sobre uma série de temas, entre eles: o avanço do coronavírus, a ausência de investimentos públicos em ciência e tecnologia, o movimento anti-vacina e a campanha do governo para prevenir a gravidez na adolescência, comandada pela ministra dos Direitos Humanos, Damares Alves.
Questionado sobre cortes no orçamento de programas de pesquisa, Drauzio foi enfático. Definiu o investimento ciência e tecnologia como caminho para o desenvolvimento de uma nação. Neste raciocínio, desenvolver tecnologia também resultaria em melhores condições de vida para a população. Para exemplificar a ideia, Drauzio citou o aporte de recursos do governo federal na Embrapa, nos últimos 50 anos. Segundo ele, a agricultura brasileira cresceu, entre outros fatores, pelo avanço em tecnologia e pesquisa.
— Como era a agricultura brasileira 50 anos atrás? Pobre. A comida era cara, as populações mais pobres não tinham acesso a proteínas de qualidade. Aí criaram a Embrapa, que desenvolveu a nossa agricultura. E somos um país entre os maiores exportadores hoje. Foi a partir de tecnologia, da ciência, das informações para adaptar a plantação às nossas condições, foi o que trouxe isso — exemplificou.
Confrontado com declarações de autoridades que repudiam investimentos em pesquisa e universidades, Drauzio rebateu:
— O problema sabe qual é? Você tem que colocar nesses cargos chave pessoas que tenham liderança no meio. Pessoas que enxerguem mais longe, que tenham um projeto, que encarem o mundo científico como um motor do desenvolvimento. Você não pode colocar gente ignorante. A ignorância simplifica as coisas, a burrice é ousada. A burrice afirma com certeza absoluta. Ela xinga, fala, é violenta. Como é que o país vai se desenvolver? Vamos ficar comprando tecnologia dos outros? Vai ser assim o Brasil? Com um tremendo potencial de desenvolvimento? Vamos ficar sendo compradores, importadores de tecnologia? Todos os centros que eu visito (fora do país) tem um brasileiro que trabalha lá há muitos anos, que está produzindo cientificamente. Essas pessoas voltariam ao Brasil. Eles não voltam por quê? Porque não há condições de trabalho aqui se comparadas as de lá. Quer dizer, nós (Brasil) temos gente qualificada. Por que ficamos assim exportando, formando esses cérebros e mandando para fora? — indagou.
Na entrevista, Drauzio citou ainda a importância de investimento em pesquisa na área de saúde:
— Na medicina, nós (Brasil) somos importadores de remédios, de matéria-prima. A Índia fabrica genéricos e vende para o mundo inteiro. Olha a riqueza disto. A gente fica nessa coisa da brigar com a ciência em 2020. É ridículo isso. Nós tínhamos que estar apoiando a ciência. O Brasil tem 210 milhões de habitantes. Se eu consigo desenvolver aqui um medicamento, semelhante a esses que custam milhares de dólares, e ofereço a um preço barato, vamos conseguir ter escala. E vamos conseguir, assim, exportar e vamos criar riquezas. Vamos criar a possibilidade de oferecer aos brasileiros tecnologia de ponta, medicamentos de qualidade — completou.