O "noivado" da atriz Regina Duarte com o governo de Jair Bolsonaro não foi mal recebido por representantes da classe artística. Usualmente contrários às posições do governo, atores e produtores culturais perceberam em Regina a possibilidade de que ela possa representar, com verdade, os anseios de profissionais do ramo, já que enquanto atriz conhece de perto as demandas do setor. A coluna buscou a opinião de diferentes personagens do cenário cultural a fim de verificar o que pensam sobre a chegada de Regina ao governo Bolsonaro.
Conhecida como atriz do primeiro time da Globo, Regina Duarte, 72 anos, aceitou na tarde desta segunda-feira (20) o convite de Bolsonaro para conduzir a pasta da Cultura. Ela afirmou ao jornal Folha de S.Paulo que vai "noivar" com o governo. A artista foi escolhida após a saída do dramaturgo Roberto Alvim, exonerado na última sexta-feira (17) depois de publicar um vídeo em que plagiou uma fala de Goebbels, ministro da propaganda da Alemanha nazista.
Ator Zé Victor Castiel, um dos criadores do Festival Porto Verão Alegre
"Eu acho que, pelo menos, é uma atriz, sabe dos problemas que se enfrenta na cultura. É, ao menos, uma pessoa doce e honesta. Acho que pode ser positivo."
Escritora Martha Medeiros
"Regina Duarte fez Malu Mulher, um personagem fortíssimo para o movimento feminista no Brasil. Levou Garcia Lorca aos palcos. Encarnou a Raquel da novela Vale Tudo, que lutava bravamente contra o elitismo e dinheirismo. Foi a irreverente Porcina de Dias Gomes. Espero que um pouquinho de cada personagem tenha ajudado a formatar a cidadã Regina e que ela tenha coragem e caráter suficientes para não virar uma marionete nas mãos do governo. Respeito sua trajetória e torço para que nos represente bem."
Secretário de Cultura de Porto Alegre, Luciano Alabarse
"Não adianta crucificar antecipadamente a Regina. Melhor torcer para que ela acerte a mão."
Diretor de teatro, Bob Bahlis
"Considerando esta situação que a cultura se encontra, desde a posse de Bolsonaro, esse desmanche total da cultura, talvez Regina, sendo atriz, convivendo com muitos outros colegas de esquerda e de direita, seja uma boa saída para a classe artística. Mas fica claro que este governo não quer ver a cultura funcionando, então, essa indicação me soa muito estranha. Eu, particularmente, acho que o convite realmente pode melhorar um pouco as coisas, já que o antigo secretário (Alvim), mostrava sérios problemas mentais."
Produtor cultural e diretor do Poa em Cena, Fernando Zugno
"Então, eu tenho o maior respeito por todes artistas brasileires. Lógico que torço pra que dê certo e ela saiba operar e trabalhar no serviço público, mas definitivamente não é um cargo pra qualquer um. Principalmente no que diz respeito a compreensão do papel da cultura na formação de referências, de inclusão, de educação e de beleza na vida de todes brasileires. Valorizar as manifestações artísticas que mostram nossa inteligência e a criatividade a serviço do público e sua diversidade e não das ideias do governo em si. E, de fato, nunca vi a Regina Duarte assumindo esse papel de gestão e acompanhamento dos movimentos artísticos atuais do país."
Secretária estadual da cultura, Bia Araújo
"Certamente a chegada da Regina Duarte, somada à possível volta do MinC traz um alento ao meio cultural. Ocorre que a pasta da cultura, secretaria ou ministério, carece de um tratamento diferenciado, sem cerceamento e com uma visão estratégica. Já perdemos muito em 2019. Torço para que a partir de agora tenhamos maior interlocução com o governo federal."